Islamitas fazem manifestação em resposta à oposição na Tunísia

De Tunes

O partido islamita tunisiano Ennahda convocou uma manifestação para este sábado na Tunísia para defender a legitimidade do poder, em resposta à mobilização desatada pelo assassinato de um líder político, Chokri Belaid.

Em meio à crise, o primeiro-ministro Hamadi Jebali declarou estar disposto a se demitir caso fracasse na formação de um governo de tecnocratas apolíticos antes de meados da próxima semana.

A manifestação deste sábado foi convocada pelas juventudes de Ennahda na avenida Habib Bourguiba, em pleno coração da capital, cenário de confrontos violentos nos últimos dias entre opositores e policiais.

Mais de 3.000 manifestantes gritaram slogans pró-islamitas e antifranceses.

"França, vá embora" e "O povo quer proteger a legimitidade do poder", gritavam os manifestantes, que exibiam cartazes com inscrições como "Em defesa da legitimidade da Assembleia Nacional Constituinte" e "Luta contra a violência política".

Na multidão havia militantes salafistas, com suas bandeiras negras e slogans em favor de várias correntes islamitas.

A manifestação também tinha por objetivo atacar a "ingerência francesa" depois que o ministro francês do Interior, Manuel Valls, denunciou o "fascismo islamita" depois do assassinato do político opositor Chokri Belaid.

A referência dos manifestantes à Assembleia Nacional Constituinte visava a Jebali, número dois de Ennahda, que na sexta pediu para formar um governo de tecnocratas para sair da crise política, se necessário sem o aval da Constituinte.

Jebali disse estar disposto a renunciar se não conseguir seu objetivo.

"Apresentarei minha equipe no mais tardar em meados da próxima semana. Se for aceito, continuarei assumindo minhas funções de chefe do governo, caso contrário, pedirei ao presidente da república que busque outro candidato para compor um novo governo", afirmou à emissora Shems-FM.

É a primeira vez que Jebali faz referência a uma demissão. O premiê entrou em conflito aberto com a direção de seu movimento ao anunciar que queria formar um governo apolítico.

Prova de como as autoridades estão alertas em relação à tensa situação no país, o exército continua posicionado na capital, num contexto de estado de emergência vigente desde a revolução de janeiro de 2011, que derrubou o regime de Zine El Abidine Ben Ali.

Na véspera, milhares de pessoas participaram no funeral de Belaid, que se transformou em uma manifestação contra o poder islamita na Tunísia.

O Ennahda foi acusado de estar por trás deste assassinato sem precedentes na história contemporânea da Tunísia.

A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo contra vândalos que incendiaram carros diante do cemitério, no sul de Túnis, onde o opositor foi enterrado. O incidente provocou um breve movimento de pânico.

Assassinado com três tiros na frente de sua casa, na quarta-feira em Túnis, Belaid, de 48 anos, era um firme opositor aos islamitas e liderava o Partido dos Patriotas Democratas.

Os militares também foram mobilizados nas cidades de Zarzis (sul), Gafsa (centro) e Sidi Bouzid, berço da revolução de 2011, diante dos principais prédios do governo.

Uma greve geral causou o cancelamento de todos os voos de partida e de chegada no aeroporto de Túnis-Cartago, o principal do país.

Esta mobilização, a primeira desta magnitude desde 2011, ocorre em um contexto econômico e social muito tenso, em meio a manifestações e conflitos, geralmente violentos, que se multiplicam em razão do desemprego e da miséria, dois fatores que desencadearam a revolução.

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