Depois de dia de violência, oposição ameaça passar à ofensiva na Ucrânia

Em Kiev (na Ucrânia)

A oposição ameaçou passar à ofensiva depois que a polícia lançou um ataque nesta quarta-feira (22) contra os manifestantes, no centro de Kiev, no quarto dia de violentos confrontos na Ucrânia que deixaram pelo menos cinco mortos.

Dezenas de milhares de manifestantes permaneciam no centro de Kiev no começo da noite e houve confrontos com a tropa de choque.

Apesar do frio intenso (-10ºC), os manifestantes reforçavam com neve fresca as barricadas que protegem a Praça da Independência.

A algumas centenas de metros, continuavam os embates entre manifestantes e forças de ordem na rua Gruchevski, onde houve violentos choques desde o domingo (19).

Os opositores atiravam garrafas incendiárias na tropa de choque, disposta em fileiras atrás de uma barricada de pneus em chamas.

Depois de um dia de enfrentamentos na capital da Ucrânia, a oposição ameaçou passar à ofensiva na quinta-feira (23), se o presidente Viktor Yanukovytch não fizer concessões.

A ameaça foi feita pelo líder opositor Vitali Klitschko diante de dezenas de milhares de manifestantes reunidos na Praça da Independência.

O presidente Viktor Yanukovytch pode acabar com a crise sem violência convocando eleições antecipadas, disse o líder opositor.

Já Arseni Iatseniuk, ligado à ex-primeira-ministra presa Yulia Timoshenko, deu "24 horas" para que o governo evite um "banho de sangue".

"Existem duas soluções: acabar com o banho de sangue e manter vivos todos os que estão na Maidan", a Praça da Independência, lançou. "Restam 24 horas para que isso seja feito".

"Se esse caminho não for escolhido, eu falo por mim: não viverei na vergonha. Nós iremos juntos à frente, mesmo que o resultado possa ser um tiro na cabeça", acrescentou.

A deputada Inna Bogloslovska pediu que os integrantes do partido no poder, do qual ela se afastou recentemente, sigam o seu exemplo e se unam à oposição.

"Viktor Fedorovytch, é o fim!" disse ela à multidão, referindo-se ao presidente Viktor Yanukovytch.

A Praça da Independência está ocupada há dois meses, a algumas centenas de metros de onde ocorreram os violentos choques dos últimos três dias.

  • Efrem Lukatsky/AP

    Líder da oposição Vitali Klitschko (centro) participa de protesto em Kiev (Ucrânia), no último domingo (19). Centenas de ativistas pró-integração do país com a UE entraram em confronto com a polícia após o endurecimento de medidas contra as manifestações

Ataque aos manifestantes

O dia foi marcado pela violência em Kiev. Cinco manifestantes morreram, alguns abatidos a tiros, e mais de 300 ficaram feridos.

Por volta das 6h da manhã (horário local), a polícia antidistúrbios lançou uma ofensiva na rua Gruchevsky, perto da sede do governo e do Parlamento.

Os manifestantes reagiram jogando coquetéis molotov e pedras nas forças de ordem, que respondiam com balas de borracha e bombas de efeito moral.

As forças de segurança mobilizaram pela primeira vez, nesta quarta-feira, um blindado no centro de Kiev.

O veículo de transporte de tropas avançou pela rua Gruchevsky, derrubando as barricadas dos manifestantes.

 

Reações internacionais

Em resposta ao uso da força contra os manifestantes em Kiev, os Estados Unidos decidiram revogar os vistos de várias autoridades ucranianas, indicou nesta quarta-feira a embaixada do país.

"Estamos contemplando outras medidas contra os responsáveis pela violência atual", indicou a embaixada em um comunicado, sem informar a identidade ou os cargos dessas pessoas.

Já a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, "condenou com a maior firmeza a escalada violenta dos acontecimentos em Kiev" e pediu "o fim imediato de todos os atos de violência".

Os Estados Unidos e a União Europeia acusam o governo da Ucrânia de ter provocado a escalada da violência ao adotar leis repressivas.

Mas as autoridades ucranianas receberam o apoio de Moscou, que denunciou as ingerências estrangeiras nos assuntos da Ucrânia e tachou a oposição de extremista porque viola a Constituição.

"O poder legítimo na Ucrânia tem que enfrentar ingerências estrangeiras", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores, Grigori Karasin, citado pela agência Interfax. "A parte extremista da oposição viola descaradamente a Constituição do país", acrescentou.

Os protestos começaram na Ucrânia quando o presidente Viktor Yanukovytch se negou a assinar um acordo de associação com a União Europeia e optou por uma aproximação com a Rússia.

Yanukovych, que se reuniu nesta quarta-feira com três líderes opositores, promulgou na sexta-feira (17) as controversas leis que estabelecem novas sanções contra os manifestantes, apesar das advertências ocidentais e das ameaças de sanções.

Os textos aprovados pelo Parlamento ucraniano preveem penas de prisão de 15 dias pela instalação não autorizada de barracas em locais públicos e de até cinco anos de prisão para as pessoas que bloquearem os edifícios oficiais.

Outro texto obriga as ONGs que recebem financiamento ocidental a se registrarem oficialmente como "agentes do exterior", termo criado na legislação russa em 2012 após uma onda de protestos contra o presidente Vladimir Putin.

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