Israel bombardeia Faixa de Gaza após cessar-fogo frustrado

De Gaza

A trégua de 72 horas entre Israel e o grupo Hamas na faixa de Gaza durou poucas horas e deixou mais de 100 palestinos mortos nesta sexta-feira (1º), após a suposta captura de um suboficial israelense em Rafah.

O governo israelense não tardou em acusar o movimento islâmico palestino e seus aliados de violação flagrante do cessar-fogo de três dias estabelecido entre Israel e o Hamas e que teoricamente entrou em vigor às 8h da manhã local (23h de quinta-feira, 30, em Brasília).

O Hamas também atribuiu o rompimento da trégua ao Estado hebreu.

Hamas diz não ter informações sobre militar

As chances de um pausa mais longa nas hostilidades parecem estar mais distantes do que nunca, após a provável captura do subtenente de 23 anos Hadar Goldin e da morte de 101 palestinos perto de Rafah, no sul de uma faixa de Gaza devastada, de acordo com fontes dos serviços de emergência locais.

Dois soldados israelenses foram mortos no confronto que levou ao sequestro do subtenente Goldin perto de Rafah.

Arte/UOL
Mapa mostra localização de Israel, Cisjordânia e Gaza

As Brigadas Ezzedine al-Qassam - braço militar do Hamas - afirmaram neste sábado que "não têm informações sobre o militar". "Perdemos contato com um de nossos grupos de combatentes que luta no setor onde desapareceu o soldado e é possível que nossos combatentes, assim como esse soldado, tenham sido mortos".

As Brigadas informaram ainda que o confronto no setor de Rafah ocorreu às 7H locais de sexta-feira, uma hora antes da entrada em vigor da trégua humanitária.

O presidente americano, Barack Obama, pediu a libertação imediata e incondicional do suboficial israelense, considerando que um cessar-fogo será "muito difícil" de instaurar se o Hamas não respeitar "seus compromissos no âmbito de um cessar-fogo".

Obama também pediu que mais esforços sejam feitos para proteger os civis "presos na linha de fogo" em Gaza.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, exigiu a libertação imediata do militar sequestrado e indicou que, se for confirmado, o ataque contra militares israelenses constitui uma "grave violação do cessar-fogo".

"A ONU não possui meios independentes para verificar exatamente o que aconteceu", lembrou Ban. Apesar disso, "esses atos colocam em questão a credibilidade das garantias que o Hamas deu à ONU", considerou.

Segundo o Exército israelense, soldados envolvidos na destruição de um túnel do Hamas na região de Rafah foram atacados por "terroristas" por volta das 9h30, após o início da trégua.

Na madrugada deste sábado, 35 palestinos morreram em Rafah nos ataques aéreos israelenses, aumentando para 107 o número de óbitos após o desaparecimento do suboficial do Exército hebreu nesta região, informaram os serviços locais de emergência.

Entre os 35 mortos, quinze são membros de uma mesma família, incluindo cinco crianças - com entre 3 e 12 anos - que tiveram sua casa destruída.

Antes dos ataques aéreos, os corpos de cinco palestinos foram encontrados entre os escombros de casas e outros dois morreram em Rafah atingidos por disparos de tanques.

Outros três palestinos morreram durante a madrugada atingidos por disparos de tanques em Khan Yunis, também no sul da Faixa de Gaza.

'Linha vermelha'

Para Israel, o sequestro de um militar representa uma linha vermelha. O rapto em junho de 2006 do soldado israelense Gilad Shalit desencadeou operações militares que duraram cinco meses na faixa de Gaza. Shalit foi libertado em outubro de 2011 em troca de mil prisioneiros palestinos.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas e outros grupos de terem violado de forma flagrante o cessar-fogo.

Para o porta-voz do Hamas em Gaza, Fawzi Barhum, "a ocupação [Israel] violou o cessar-fogo. A Resistência palestina agiu em nome de seu direito a se defender e para colocar fim ao massacre de nosso povo".

Apesar do rompimento da trégua, o Egito indicou que vai manter as negociações previstas nesta sexta-feira no Cairo por um cessar-fogo duradouro.

Entenda a ofensiva de Israel em Gaza
  • Como o novo conflito começou?
    A tensão aumentou drasticamente após o sequestro de 3 jovens israelenses na Cisjordânia, em junho. Israel então fez missão de busca que prendeu 420 palestinos e matou 6 inocentes. Após 18 dias, os corpos dos jovens foram achados. Vários grupos jihadistas assumiram o crime. Mas Israel culpa o Hamas, que não se posicionou. Depois, um palestinos de 16 anos foi morto em Jerusalém por judeus radicais
  • Em qual contexto político o crime aconteceu?
    As relações entre os governos israelense e palestino já estavam tensas desde que, em abril, Hamas e Fatah anunciaram governo de unidade nas regiões autônomas palestinas. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que o novo governo reconhece os acordos de paz assinados, mas Israel acha que Abbas não pode fechar acordo com Israel e, ao mesmo tempo, com o Hamas, que quer a destruição de Israel
  • Por que a área do conflito é polêmica?
    Os jovens israelenses eram de assentamentos em território palestino da Cisjordânia considerados ilegais pela ONU por violar o artigo 49 da Quarta Convenção de Genebra, de 1949, que proíbe a transferência violenta de população civil para outro Estado. Israel discorda dessa interpretação e alegando que a área nunca teria sido parte de um Estado soberano e que o acordo não se aplica ali
  • Por que a ONU fala em "emergência humanitária"?
    A ofensiva de Israel está cada vez mais sangrenta. Em poucas semanas, mais de mil palestinos foram mortos nos ataques em Gaza, inclusive dezenas de idosos e crianças. Cerca de 53 mil soldados israelenses agem em uma pequena faixa de terra de 362 km2, ondem vivem meio à extrema pobreza 1,8 milhão de palestinos. A ONU diz que mais de 3/4 das vítimas são civis e já são mais de 80 mil desabrigados

Conflito já matou mais de 1.640

No total, o conflito já matou 1.640 palestinos. De acordo com a ONU, mais de 70% dos mortos são civis, incluindo um grande número de crianças.

Do lado israelense, 63 soldados e três civis morreram.

O governo dos Estados Unidos acusou o Hamas de cometer uma barbárie ao violar o cessar-fogo.

O rei Abdullah da Arábia Saudita criticou o silêncio indesculpável do mundo diante dos crimes de guerra realizados por Israel em Gaza, em um discurso difundido pela agência oficial SPA.

"Vemos derramar o sangue de nossos irmãos da Palestina nas matanças coletivas que não poupam ninguém, e nos crimes de guerra contra a humanidade que acontecem à vista de toda a comunidade internacional, que permanece indiferente aos acontecimentos da região", afirmou.

Conheça os pontos da negociação entre Israel e palestinos
  • Reprodução/BBC
    Estado palestino
    Os palestinos querem um Estado plenamente soberano e independente na Cisjordânia e na faixa de Gaza, com a capital em Jerusalém Oriental. Israel quer um Estado palestino desmilitarizado, presença militar no Vale da Cisjordânia da Jordânia e manutenção do controle de seu espaço aéreo e das fronteiras exteriores
  • Mohamad Torokman/Reuters
    Fronteiras e assentamentos judeus
    Os palestinos querem que Israel saia dos territórios que ocupou após a Guerra dos Seis Dias (1967) e desmantele por completo os assentamentos judeus que avançam a fronteira, considerados ilegais pela ONU. Qualquer área dada a Israel seria recompensada. Israel descarta voltar às fronteiras anteriores a 1967, mas aceita deixar partes da Cisjordânia se puder anexar os maiores assentamentos.
  • Cindy Wilk/UOL
    Jerusalém
    Israel anexou a área árabe da Jordânia após 1967 e não aceita a dividir Jerusalém por considerar o local o centro político e religioso da população judia. Já os palestinos querem o leste de Jerusalém como capital do futuro Estado da Palestina. O leste de Jerusalém é considerado um dos lugares sagrados do Islã. A comunidade não reconhece a anexação feita por Israel.
  • Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos
    Refugiados
    Há cerca de 5 milhões de refugiados palestinos, a maioria deles descendentes dos 760 mil palestinos que foram expulsos de suas terras na criação do Estado de Israel, em 1948. Os palestinos exigem que Israel reconheça seu "direito ao retorno", o que Israel rejeita por temer a destruição do Estado de Israel pela demografia. Já Israel quer que os palestinos reconheçam seu Estado.
  • Mahfouz Abu / EFE
    Segurança
    Israel teme que um Estado palestino caia nas mãos do grupo extremista Hamas e seja usado para atacar os judeus. Por isso, insiste em manter medidas de segurança no vale do rio Jordão e pedem que o Estado palestino seja amplamente desmilitarizado. Já os palestinos querem que seu Estado tenha o máximo de atributos de um Estado comum.
  • Abbas Momani/AFP
    Água
    Israel controla a maioria das fontes subterrâneas da Cisjordânia. Os palestinos querem uma distribuição mais igualitária do recurso.

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