Jornalista chinesa pega 7 anos de prisão por revelar 'segredos de Estado'

Em Pequim

  • Kin Cheung/AP

    Manifestantes anti-Pequim seguram cartazes com a foto da jornalista Gao Yu durante protesto em Hong Kong

    Manifestantes anti-Pequim seguram cartazes com a foto da jornalista Gao Yu durante protesto em Hong Kong

Uma conhecida jornalista chinesa, que já conquistou vários prêmios internacionais, foi condenada nesta sexta-feira (17) em Pequim a sete anos de prisão por divulgação de segredos de Estado, apesar dos apelos dos defensores dos direitos humanos.

A pena aplicada contra Gao Yu, 71, confirma que o regime do presidente Xi Jinping não dará alívio aos intelectuais de ideias reformistas, considerados perigosos para a permanência do Partido Comunista no poder.

Gao foi a primeira a ganhar, em 1997, o Prêmio Mundial da Liberdade da Imprensa da Unesco. No ano passado, Washington disse estar muito preocupado com o destino da jornalista investigativa.

Gao Yu é culpada de "ter transmitido segredos de Estado a estrangeiros", indicou o tribunal em sua conta oficial de microblogs.

Shang Baojun, um dos advogados da condenada, mostrou-se muito decepcionado com a sentença.

Após a divulgação do conteúdo do veredicto, Gao Yu expressou com voz forte sua intenção de entrar com um recurso, mas não a deixaram falar mais, contou o advogado.

A Anistia Internacional denunciou imediatamente um "freio à justiça" e um "ataque à liberdade de imprensa".

"Esta sentença chocante contra Gao Yu não é nada mais que uma perseguição política flagrante. Ela é vítima de uma lei sobre os segredos de Estado arbitrária e de formulação vaga, que serve para reprimir os militantes da liberdade de expressão", disse William Nee, especialista na China dentro da Anistia.

Com um estado frágil de saúde, Gao havia comparecido à justiça a portas fechadas em novembro para responder por acusações que negava. A imprensa estrangeira não pôde acompanhar o julgamento.

Esta ex-vice-chefe de redação da revista Economics Weekly foi detida no fim de abril de 2014 em meio a uma campanha para colocar sob custódia militantes pró-direitos humanos diante da iminência do 25º aniversário da repressão da Praça da Paz Celestial, também conhecida como Tiananmen.

Segundo a organização Human Rights Watch (HRW), ela foi proibida de transmitir a um site baseado nos Estados Unidos um documento interno do Partido Comunista chinês que defendia uma maior censura nas ideias democráticas, das pretensões de independência dos meios de comunicação e das críticas ao balanço histórico do Partido Comunista chinês.

A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) lembrou na quinta-feira em um comunicado que Gao havia "enviado ao meio de comunicação uma nota interna do Partido Comunista chinês (o documento 9) considerada secreta, segundo as autoridades chinesas, embora tenha sido publicada na rede".

"A comunidade internacional não deve dar uma carta branca a Xi Jinping em nome dos interesses econômicos que a vincula com Pequim", estimou a RSF.

A condenação de Gao Yu "é um novo golpe à liberdade de expressão e de imprensa", estimou a PEN American Center, associação de escritores que milita a favor da tolerância e da liberdade de palavra.

Os Estados Unidos pediram que Pequim liberte imediatamente a jornalista.

"Pedimos às autoridades que libertem a sra. Gao e a respeitar os compromissos internacionais em termos de direitos humanos", afirmou um funcionário do departamento de Estado à AFP.

A União Europeia, por sua vez, destacou as "sérias dúvidas" do processo e pediu a revisão do julgamento de Gao, bem como os casos de outras pessoas "processadas por expressar pacificamente suas opiniões ou pedir mais transparência".

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