Crise de migrantes: Hungria fecha fronteira construindo muro e Sérvia reage
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Reuters
A Hungria anunciou nesta quarta-feira (17) o fechamento de sua fronteira com a Sérvia, um novo sinal da crise migratória no dia seguinte ao fracasso dos europeus para decidir a distribuição solidária dos refugiados em seu território.
Budapeste lançou os "trabalhos preparatórios" para a construção de um muro de quatro metros de altura e 175 km ao longo de sua fronteira com a Sérvia, informou o ministro húngaro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto, afirmando que essa etapa estará concluída em 24 de junho.
"De todos os países da União Europeia, a Hungria é o que sofre maior pressão de migração. Uma resposta comum da UE a este desafio é muito demorada, e a Hungria não pode esperar. Deve agir", justificou.
O primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vucic, disse estar "surpreso e chocado" com a decisão.
"Estou surpreso e chocado. Vamos falar dessa decisão com nossos colegas húngaros", declarou Vucic, ao vivo à televisão pública (RTS) de Oslo, onde se encontra em visita oficial.
"A solução não é construir muros. A Sérvia não pode ser responsável pela situação criada pelos migrantes. Somos apenas um país de passagem. A Sérvia é responsável pela crise na Síria?", completou o premiê.
Vucic também questionou se a Sérvia "deve, por sua vez, erguer muros [em suas fronteiras] com Macedônia e Bulgária", países vizinhos, de onde saem os migrantes em situação clandestina ansiosos para chegar aos países ocidentais da UE.
"A Sérvia não construirá muros. Ela não vai se isolar. Não entendo essa decisão e pretendo falar com nossos parceiros na UE", afirmou.
O primeiro-ministro lembrou que os migrantes entram na Sérvia provenientes "de países da UE", como Grécia e Bulgária.
"Nós lhes fornecemos ajuda, comida, mas essas pessoas não querem ficar na Sérvia. Elas estão de passagem", insistiu Vucic.
UE sem acordo
Reunidos na terça-feira (16) em Luxemburgo, os 28 países-membros foram incapazes de chegar a um acordo sobre um dispositivo destinado a aliviar os países mais expostos. Segundo a Frontex, pelo menos 100 mil pessoas entraram ilegalmente na UE desde o início do ano.
Hoje, o papa Francisco questionou todos aqueles --governos ou indivíduos-- que "fecham suas portas aos migrantes" e convidou os católicos a "pedirem perdão a Deus" em seu nome. O apelo do papa não foi direcionado a qualquer país, instituição, ou indivíduo em particular, mas foi feito nesse contexto de crescentes tensões no bloco.
Paris, por exemplo, adotou um dispositivo rigoroso de controle na fronteira italiana, bloqueando efetivamente a entrada em seu território de milhares de imigrantes em situação ilegal. Nesta quarta, o governo francês garantiu, porém, estar decidido a criar 10.500 novos locais de acolhimento para requerentes de asilo e refugiados. Em 2014, a França registrou 65 mil pedidos de asilo.
Contrapondo-se a uma gestão europeia do assunto, a Hungria reivindica, por sua vez, o poder de tratar à sua maneira o fluxo migratório.
O número de refugiados na Hungria, que foi de 2.000 para todo o ano de 2012, saltou para 54 mil desde janeiro passado, fazendo desse o país da Europa Central, atrás da Suécia, que hospeda o maior número de refugiados em relação à sua população.
Nova Cortina de Ferro
Sem poder expulsar pura e simplesmente os migrantes em seu território, como desejava o líder populista Viktor Orban, a Hungria optou por um muro.
"Essa decisão não viola qualquer tratado internacional, e outros países optaram pela mesma solução", alegou Szijjarto, citando Bulgária, Grécia e Espanha por seus enclaves no Norte da África.
A Sérvia é considerada um importante ponto de passagem na rota oriental de migrantes para a Europa.
Na última sexta-feira, 12 de junho, Orban acusou Belgrado de "enviar" migrantes para a Hungria, ressaltando que "eles devem ser interrompidos em território sérvio".
A questão deve ser discutida entre os líderes dos dois países em uma reunião, marcada para 1º de julho.
Em declarações nesta quarta-feira, o ministro do Interior sérvio, Nebojsa Stefanovic, culpou a União Europeia.
"Apelo aos países da União Europeia que nos ajudem a fazer um esforço extra para permitir a Sérvia que proteja suas fronteiras com os países vizinhos de origem dos migrantes, porque eles vêm, principalmente, de países-membros da UE, Grécia e Bulgária", declarou na nota divulgada hoje.
De acordo com o governo húngaro, 95% dos migrantes que entram na Hungria o fazem pela fronteira sérvia. Cerca de 75% deles vêm de Síria, Iraque e Afeganistão - países devastados pela guerra.
Em janeiro e fevereiro deste ano, a Hungria também tem visto a chegada de milhares de kosovares, em razão da difícil situação econômica no país.
A ONG Comitê de Helsinque em Budapeste lamentou o projeto da cerca, evocando uma "nova Cortina de Ferro".
No extremo-leste da UE, a Bulgária planeja estender em 82 km a cerca de arame farpado de 30 km implantada no final de 2013 em sua fronteira com a Turquia.