"Não tive medo", diz menino imobilizado por soldado israelense retratado em imagens
-
Mohamad Torokman/Reuters
Um soldado armado derruba um menino de braço quebrado contra as pedras antes de ser agredido pelos parentes da criança, em uma cena que correu mundo e faz parte de uma a guerra de imagens protagonizadas por palestinos e israelenses.
Para os palestinos, as imagens feitas na sexta-feira (28) em Nabi Saleh, Cisjordânia, vão se juntar às ilustrações mais eloquentes que mostram "a decadência moral do Exército de ocupação", nas palavras da chancelaria palestina. Para muitos israelenses, seus soldados caíram em uma armadilha midiática.
Os vídeos da briga, bem como fotos tiradas pela AFP, mostram um soldado israelense perseguindo uma criança com braço engessado. O soldado encapuzado pega a criança, a imobiliza com uma chave de braço e tenta pressionar seu rosto contra as pedras.
Ativistas pró-palestinas, a mãe, a irmã e outras mulheres do vilarejo apressam-se em agarrar o soldado. "É apenas uma criança, uma criança pequena", grita a mãe. A irmã do menino morde o soldado. O soldado tenta manter sua arma fora do alcance das mulheres.
Cada vez mais desesperado, ele pede por ajuda. Durante quase um minuto, permanece sozinho lutando com essas mulheres que tiram dele o capuz, até que um superior chega e ordena que deixe a criança. As imagens rodaram pela imprensa palestina, israelense e internacional, e tomou conta das redes sociais.
Para os palestinos, a cena é emblemática das ações israelenses na Cisjordânia ocupada. A imprensa palestina reproduziu uma caricatura revisitando a briga e dando ao soldado israelense o rosto de um cão.
Nabi Saleh, perto de Ramallah, tem sido há anos um dos palcos do conflito entre israelenses e palestinos. Toda sexta-feira, palestinos, estrangeiros e até israelenses se manifestam contra a expansão da colônia de Halamish do outro lado da estrada. Toda sexta-feira, soldados esperam por eles.
As pedras acabam sendo lançadas de um lado, gás lacrimogêneo e balas de borracha irrompem do outro. Em três anos, duas pessoas morreram e 375 ficaram feridas, segundo ativistas, quase a metade menores de idade.
Foi correndo entre os blindados israelenses que entraram na aldeia de Mohammed Tamimi, a criança de 11 anos das imagens, quebrou o pulso, segundo seu pai, Bassem Tamimi. "Eu não tive medo", disse Mohammed, "mas gritei para chamar meus parentes para virem me livrar do soldado". Narimane, sua mãe, disse ter pensado em "apenas uma coisa: libertar meu filho das mãos do soldado"
Os Tamimi lideram o movimento de contestação em Nabi Saleh. O pai diz ter sido preso nove vezes. Ahed, de 13 anos, ficou conhecida por fotos em que ameaça com o punho fechado soldados israelenses e que fizeram com que fosse recebida em 2012 por Recep Tayyip Erdogan, primeiro-ministro turco.
Para muitos israelenses, os Tamimi são "agitadores" que estão dispostos a colocar em risco os seus filhos. A manifestação de sexta-feira é "uma operação de relações públicas", onde os manifestantes tentam "provocar os soldados atirando pedras que podem ser fatais", a ponto de os soldados serem obrigados a reagir, disse à AFP um oficial.
O próprio Mohammed Tamimi teria atirado pedras na sexta-feira, segundo o Exército israelense. O incidente suscitou fortes reações entre os israelenses que, como o ex-ministro ultranacionalista Avigdor Lieberman, perceberam uma capitulação por culpa do governo. Também levantou dúvidas. Como um jovem recruta israelense pode estar numa situação semelhante, realizando operações policiais?
Arnon, o pai do soldado, relutou em falar com a imprensa tão pouca moderação demonstrou seu filho.
Receba notícias do UOL. É grátis!
Veja também
- Análise: Combates entre Israel e Gaza servem aos interesses de Netanyahu e do Hamas
- Relato: História de jovem palestino baleado por soldado israelense mostra que a paz ainda é possível
- Opinião: Clinton, Bush e Obama ajudaram a matar o processo de paz na Palestina. Trump está concluindo o trabalho
- Nos protestos de Gaza, crianças palestinas voltam feridas e traumatizadas