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Imigração é tema-chave em eleição britânica

O paquistanês Kashir Mir, 34, trabalha em uma loja de perucas em Brent Central, Londres (Inglaterra); o bairro é um dos que têm maior diversidade étnica na cidade - Eddie Keogh/Reuters
O paquistanês Kashir Mir, 34, trabalha em uma loja de perucas em Brent Central, Londres (Inglaterra); o bairro é um dos que têm maior diversidade étnica na cidade Imagem: Eddie Keogh/Reuters

06/05/2015 07h23

Segunda maior preocupação dos eleitores britânicos nesta eleição, a imigração é um tema polêmico e complexo no país. A direita os acusa de roubar emprego de britânicos e de abusar do sistema de benefícios sociais. Ao mesmo tempo, são, reconhecidamente, essenciais em serviços básicos no país - um terço dos funcionários do sistema público de saúde, por exemplo, são imigrantes.

Só no ano passado, 624 mil pessoas imigraram para o Reino Unido. Para se ter uma ideia, no Brasil - que tem o triplo da população e onde, principalmente após a chegada de haitianos, os imigrantes ficaram em evidência - foram 122 mil novos imigrantes, segundo o Ministério da Justiça.

O discurso anti-imigrante mais contundente na campanha eleitoral é do Ukip, partido que prega a saída da União Europeia - já que cidadãos da UE não precisam de visto para entrar no país - e restrições à entrada de imigrantes.

O Partido Conservador, do atual premiê David Cameron, também quer restringir a entrada de imigrantes. Ao ser eleito, ele tinha a meta de reduzir a "imigração líquida" - a quantidade de pessoas que entra menos a quantidade de pessoas que sai - para 100 mil. Mas, no ano passado, o número ficou em 298 mil.

Esses número é alto e fez com que mesmo partidos mais à esquerda, como o Trabalhista, passassem a defender abertamente um controle maior da entrada de imigrantes no país.

A maior parte dos novos imigrantes são, em geral, trabalhadores ou jovens estudantes vindos de países da própria União Europeia.

O número exato de imigrantes vivendo no Reino Unido não é conhecido, porque muitos são ilegais e não há um método único de contagem. Estima-se que sejam cerca de 8 milhões. Desses, 350 mil seriam brasileiros, segundo estimativa do diretor da organização Casa do Brasil, Carlos Mellinger.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Justiça, são 1,8 milhão de imigrantes.

Diversos especialistas tentam calcular o impacto da imigração no Reino Unido. Um estudo do University College London que teve grande repercussão mostrou que eles colaboram de forma positiva para a economia.

Segundo a pesquisa, costumam usar menos os benefícios sociais que os britânicos e a probabilidade de pedirem benefícios é menor. O estudo afirma que os imigrantes da Europa (UE, além de Noruega, Islândia e Liechtenstein) contribuíram 34% mais do que usaram em benefícios. Os de fora da União Europeia contribuíram em 2% mais - enquanto isso, os britânicos pagaram 11% a menos em taxas do que requisitaram em benefícios.

Brasil

O Brasil, nos últimos anos, também tem assistido um aumento no contingente de imigrantes.

Mesmo assim, segundo dados da Organização Internacional para Migrações, os imigrantes são cerca de 0,92% da população - no Reino Unido, são 12%.

Os imigrantes ficaram em evidência no Brasil, principalmente, depois que haitianos começaram a chegar ao país após o terremoto de 2010.

Eles, no entanto, não entram como imigrantes, pois recebem visto humanitário. Cerca de 40 mil haitianos estão no país nesta condição, de acordo com o ministério da Justiça.

Para o demógrafo Duval Fernandes, da PUC-MG, a falta de uma legislação atual para imigração faz com que muitos tentem entrar no país ilegalmente para depois pedir status de refugiado - o que os deixa vulneráveis à ação de coiotes, por exemplo.

"Hoje temos uma demanda de refúgio que não é refúgio. Não podemos continuar permitindo que imigrantes cheguem pela fronteira norte, passem por diversas situações de vulnerabilidade. Acabamos contribuindo para isto. Ele precisa vir de maneira regular, chegar no aeroporto", afirma.

"E o tráfico de imigrantes tem que acabar. As pessoas tem que poder vir de maneira segura e com visão clara do que é Brasil, sem achar que vão ganhar um salário super alto", completa - traficantes de imigrantes costumam vender o Brasil como uma terra de salários altos.

O Ministério da Justiça organizou uma comissão para viabilizar um anteprojeto para uma nova lei de migrações.

O crescimento econômico da última década atraiu uma leva de imigrantes de países novos, mas a maioria dos imigrantes no Brasil ainda são os portugueses (276 mil), seguidos dos japoneses e dos bolivianos.

Entre os refugiados, o maior contingente é de sírios (1.740) - que são também a maior população refugiada no mundo, devido à guerra civil no país.