Venezuela vive novos protestos, e governo denuncia ingerência externa

Caracas, 20 fev (EFE).- A Venezuela viveu nesta quinta-feira uma nova jornada de protestos contra o governo de Nicolás Maduro, que reagiu denunciando a "ingerência" dos Estados Unidos e chamando para consultas a embaixadora venezuelana no Panamá, após uma noite de confrontos e incidentes que terminou com mais de cem feridos.

Os protestos aconteceram na maior parte de maneira pacífica, mas também houve atos de vandalismo em diversos pontos do país, assim como enfrentamentos entre manifestantes e polícia, e ataques de pessoas não identificadas que deixaram um balanço de seis mortos e dezenas de detidos.

Algumas ruas de Caracas e de outras grandes cidades da Venezuela continuam a ser, com uma semana de protestos, cenário de bloqueios para motoristas com barricadas por parte de grupos estudantis e manifestantes opositores ao governo.

O deputado Miguel Pizarro, do partido Primera Justicia, disse à Agência Efe que o número de feridos registrados ontem em todo o país chegou a 138, muitos atingidos por balas de chumbo. Já o total de detidos, segundo ele, é de 89.

Os incidentes se intensificaram ao cair da noite, especialmente em Caracas, onde um homem identificado como Roberto González ficou ferido com gravidade no centro da capital após receber um disparo de escopeta na virilha, conforme informou seu tio, Marcos González.

Pizarro denunciou que, durante o protesto em que Roberto ficou ferido, "grupos armados saíram a disparar contra os manifestantes diante de uma atitude passiva da Guarda Nacional (polícia militar)".

Maduro declarou ontem que tinha recebido notícias de grupos de motoristas que, segundo ele, se faziam passar por chavistas em Caracas para cometer crimes e espalhar o terror, e anunciou que seriam detidos.

Estes supostos grupos armados entraram no centro do debate político depois que a oposição os acusou de serem financiadas pelo governo para se infiltrarem nos protestos estudantis contra Maduro.

O líder opositor Henrique Capriles voltou a exigir hoje o desarmamento destes grupos e a tomar distância das manifestações que pedem a saída imediata de Maduro do poder.

Além disso, Capriles acusou o governo de fomentar a violência com a detenção do líder opositor Leopoldo López, que hoje cumpriu seu segundo dia em uma prisão militar nos arredores de Caracas com a visita de sua esposa e mostras de apoio da deputada María Corina Machado e do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma.

"Se acham que vão inabilitar, calar e dobrar Leopoldo e o resto do país com estas ações, se equivocam, o que conseguem é justamente o contrário, nos dão mais força para lutar", declarou Machado perto da penitenciária onde López está detido, acusado de incitação à violência.

Um tribunal de Caracas ratificou de madrugada a medida privativa de liberdade contra López com acusações de incêndio, provocar danos de forma planejada, formação de quadrilha e instigação à violência.

O governo denuncia que, por trás dos protestos, há uma tentativa de desestabilização, e hoje reagiu com um comunicado de rejeição às declarações feitas ontem pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, condenando a violência na Venezuela e pedindo ao governo de Nicolás Maduro para "atender as reivindicações legítimas" de seu povo, ao invés de desviar a atenção expulsando diplomatas americanos com "falsas acusações".

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano afirma que as declarações de Obama estão baseadas em "informação falsa" e lamenta que se "continue a agredir um país livre e soberano do América Latina e Caribenho, cujas políticas (...) são o resultado da vontade popular expressada democraticamente".

Do mesmo modo, o chanceler Elías Jaua informou hoje que Maduro chamou para consultas em Caracas sua embaixadora no Panamá, Elena Salcedo, após denunciar ingerência em assuntos internos por parte do país centro-americano.

"Não vamos aceitar ninguém que venha nos dar recomendações de como enfrentar grupos violentos que estão atentando contra a paz na Venezuela", disse Jaua à emissora "Unión Radio".

Após a decisão de Caracas, o chanceler do Panamá, Francisco Álvarez de Soto, negou que seu país "tenha por política a ingerência" e argumentou que se limitou a fazer apelos "respeitosos" em prol do diálogo e do entendimento na Venezuela.

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