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O minucioso trabalho de identificação das vítimas do A320

Marta Garde

Em Pontoise, na França

01/04/2015 10h46

A identificação das vítimas do Airbus A320 da Germanwings, que caiu há uma semana nos Alpes franceses, consiste em um minucioso processo laboratorial que está sob responsabilidade de um único centro francês: o Instituto de Pesquisa Criminal da Gendarmaria Nacional (IRCGN).

O instituto, com sede no município de Pontoise, nos arredores de Paris, se dedica a realizar os testes laboratoriais necessários durante as investigações e a apoiar o desenvolvimento das mesmas com pessoal especializado desde 1987.

É para lá que estão sendo levados, em transporte especializado (terrestre ou aéreo), os restos humanos encontrados no local onde um avião da filial de baixo custo da Lufthansa se chocou em 24 de março contra o maciço de Trois Évêches com 150 pessoas a bordo.

Devido à violência do impacto, o estado dos corpos impede a identificação "imediata e fácil", tornando necessária a comparação desses restos com informações disponibilizadas pelas famílias das vítimas, explicou o coronel François Daoust.

Informações como laudos médicos e odontológicos, operações e cicatrizes são armazenadas em um arquivo "pós mortem" e adicionadas às descrições físicas e particularidades, como piercings ou tatuagens, e também às amostras de DNA de pais, filhos ou parentes de sangue dos passageiros.

Na sede do IRCGN, uma equipe de 79 nove pessoas trabalha nas buscas e posterior análise dos corpos das vítimas, processo que, segundo o instituto informou nesta semana, pode demorar até quatro meses e não há garantia identificação de todos os passageiros.

Como parâmetro mais recente, há o acidente do Air Algerie, ocorrido em julho de 2014 no Mali, cuja investigação, também conduzida pelo IRCGN, permitiu a identificação de 115 das 116 pessoas que estavam a bordo.

Pequenas amostras de tecido são enviadas a Paris, enquanto os restos mortais são mantidos em um necrotério no instituto, a uma temperatura inferior a 20 graus, que garante a conservação adequada.

Devidamente protegidos e em um ambiente isolado, os membros da equipe do IRCGN fazem a primeira "lavagem" dos corpos, antes de extrair o DNA da célula para então separá-lo dos outros componentes moleculares, "ampliá-lo" e estabelecer o perfil genético.

A análise de cada amostra leva cerca de oito horas e o instituto dispõe de capacidade para examinar 86 amostras ao mesmo tempo.

O processo de comparação demora, pois requer os dados genéticos dos restos mortais dos passageiros e também toda a informação disponibilizada pelas famílias, quase todas alemãs e espanholas.

A comissão de identificação das vítimas, composta por 10 pessoas, é responsável por entregar os resultados das análises ao procurador do caso, Brice Robin, que decidirá o encerramento da investigação e divulgará seus resultados e conclusões.

A esta comissão, se somam, na qualidade de observadores, dois especialistas alemães, dois espanhóis e dois membros da organização policial internacional, a Interpol, que oficializarão os relatórios, assim que estiverem disponíveis.

As mais de 400 amostras enviadas a Paris até o momento já permitiram o isolamento do DNA de 78 pessoas, mas o processo de identificação das vítimas ainda não começou, pois ainda falta recolher toda a documentação necessária com os familiares. Processo este, que, segundo Daoust, é "muito longo e difícil".

"É melhor trabalhar no ritmo da ciência do que se apressar e correr o risco de errar", disse o coronel, que, consciente da importância de entregar os restos das vítimas para as famílias, advertiu que não dará nenhuma informação até que todas as análises tenham sido concluídas.