Referendo sírio continua em meio a repressão militar; Assad poderá ficar no poder até 2028
Pelo menos 31 civis e soldados sírios foram mortos neste domingo (26) em atos de violência que coincidiram com uma votação sobre a nova Constituição, que pode manter o presidente Bashar al-Assad no poder até 2028.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos disse que o bombardeio dos bairros dominados pela oposição em Homs matou nove civis, enquanto rebeldes mataram quatro soldados em confrontos na cidade.
O observatório, com sede no Reino Unido, afirmou que oito civis e dez membros das forças de segurança foram mortos em outras regiões da Síria, palco de uma revolta cada vez mais militarizada contra as quatro décadas de poder da família Assad.
As votações de um referendo para uma nova Constituição estavam ocorrendo. Segundo Assad, elas levarão a um pleito parlamentar em três meses, mas a oposição vê a proposta como uma piada de mau gosto.
"Deveríamos estar votando em quê? Em como morrer, se bombardeados ou com balas? Essa é a única escolha que temos", afirmou Waleed Fares, um ativista no bairro de Khalidiyah, em Homs. "Estamos presos em nossas casas há 23 dias. Não podemos sair, a não ser em algumas vielas. Mercados, escolas e edifícios públicos estão fechados, e há muito pouco movimento nas ruas por causa dos atiradores de elite", disse.
Ele afirmou que opositores em Homs pretendiam queimar cópias da nova Constituição em protesto contra o referendo, mas era muito perigoso pisar fora de casa.
No sábado, forças de segurança mataram pelo menos 100 pessoas na Síria, incluindo seis mulheres e 10 crianças, disse a Rede Síria para os Direitos Humanos, um órgão de oposição a Assad.
O governo sírio, apoiado por Rússia, China e Irã, e indiferente à pressão do Ocidente e da Liga Árabe para suspender o massacre, alega estar combatendo "grupos terroristas armados" apoiados do exterior.
A ação militar em partes de Homs criou situações angustiantes para civis, rebeldes e jornalistas. Um vídeo divulgado por ativistas no YouTube mostrou Mohammad al-Mohammad, um médico em uma clínica improvisada em Baba Amro, segurando um garoto de 15 anos atingido no pescoço por estilhaços.
"É tarde da noite e Baba Amro continua recebendo bombardeios. Não podemos fazer nada por este garoto", disse o médico, que também tratava de jornalistas estrangeiros feridos na cidade.
A correspondente norte-americana Marie Colvin e o fotógrafo francês Remi Ochlik foram mortos no bombardeio a Homs na semana passada. Outros dois jornalistas estrangeiros ficaram feridos. O grupo ainda está acuado na cidade, apesar dos esforços da Cruz Vermelha para resgatá-los.
Constituição revisada
Apesar de violência em cidades provincianas na Síria, a votação sobre a Constituição continuou em regiões mais calmas. Se aprovada, ela derrubaria um artigo que tornava o Partido Baath, de Assad, o líder do Estado e da sociedade, permitindo pluralismo político e estabelecendo um limite presidencial de dois mandatos de sete anos.
Mas esse limite não seria retroativo, o que significa que Assad, que já está no poder há 11 anos, poderia ganhar dois novos mandatos após o fim do atual, em 2014.
Dezenas de pessoas fizeram fila para votar em duas zonas eleitorais visitadas por jornalistas da Reuters em Damasco. "Eu vim votar pelo presidente Bashar. Deus o proteja e dê a ele a vitória sobre seus inimigos", afirmou o eleitor Samah Turkmani.
Ativistas contra Assad pediram boicote à votação, que veem como insignificante. Eles afirmaram que tentariam protestar perto de zonas eleitorais em Damasco.
É o terceiro referendo desde a chegada de Assad ao poder, sucedendo seu falecido pai. O primeiro o colocou no cargo em 2000, com um percentual de 97,29% de "sim". O segundo renovou seu mandato sete anos depois, com 97,62% a favor.
(Reportagem adicional de Khaled Yacoub Oweis em Amã e Erika Solomon e Dominic Evans em Beirute)