Líder do Egito recebe juízes para discutir ampliação de poderes
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Reuters
Manifestante protesta em Alexandria contra o governo do presidente Mursi, que ampliou poderes
Por Yasmine Saleh e Edmund Blair
CAIRO, 26 Nov (Reuters) - O presidente do Egito, Mohamed Mursi, negociou na segunda-feira com juízes da mais alta instância para tentar desarmar a crise decorrente do decreto que lhe conferiu poderes adicionais e que desencadeou violentos protestos no país.
O ministro da Justiça disse que aparentemente Mursi acatou uma proposta do Conselho Judicial Supremo para limitar seus novos poderes. Um porta-voz governamental disse que o presidente está "muito otimista de que os egípcios irão superar a crise".
Mas os manifestantes dizem que só a revogação do decreto irá lhes satisfazer, num sinal de que a divergência entre políticos islâmicos e seus adversários laicos continua desestabilizando o Egito, quase dois anos depois da revolução que depôs a ditadura de Hosni Mubarak.
O decreto de Mursi, político ligado à Irmandade Muçulmana, blinda suas decisões de qualquer contestação judicial.
"Não tem essa de emendar o decreto", disse Tarek Ahmed, de 26 anos, que passou a noite entre as barracas armadas no centro da praça Tahrir, no Cairo, epicentro da revolta de 2011 contra Mubarak. "Ele precisa ser revogado."
Uma pessoa foi morta e cerca de 370 ficaram feridas em confrontos entre a polícia e os manifestantes desde a divulgação do decreto, na quinta-feira. A Bolsa local opera em baixa de mais de 7 por cento.
Adversários de Mursi o acusam de agir como um ditador, e o Ocidente manifesta sua preocupação com a estabilidade do mais populoso país árabe.
O governo diz que o decreto era necessário para acelerar reformas e concluir a transição para a democracia. Liberais e esquerdistas dizem que ele expôs impulsos autocráticos de um presidente que já esteve preso pelo regime de Mubarak.
"O presidente Mursi está muito otimista de que os egípcios vão superar esse desafio, assim como superaram outros desafios", disse o porta-voz presidencial Yasser Ali a jornalistas, logo antes da reunião do presidente com os membros do Conselho Judicial Supremo.
O Conselho sugeriu um compromisso, dizendo que o decreto deveria valer apenas para "questões soberanas". O órgão também pediu o fim imediato de uma greve iniciada por alguns juízes e promotores.
"Acredito que o presidente Mohamed Mursi queira isso", disse Ahmed Mekky, ministro da Justiça, logo depois da declaração do conselho.
Alguns ativistas e advogados recorreram a uma corte administrativa contra o decreto de Mursi, e a primeira audiência foi marcada para 4 de dezembro. Outras decisões do presidente também enfrentam contestações judiciais semelhantes.
Na praça Tahrir, cartazes pediam a dissolução da assembleia constituinte egípcia, que também foi protegida pelo decreto presidencial. Muitos liberais e outros constituintes já abandonaram a assembleia, queixando-se de que suas vozes não estão sendo ouvidas.
(Reportagem adicional de Tom Perry, Patrick Werr e Marwa Awad no Cairo)