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O maior legado de Arthur Lira para o Brasil

"Parliramentarismo" - ou ParLIRAmentarismo - é o sistema de governo em voga no Brasil. Não é o parlamentarismo clássico, mas tampouco é o presidencialismo que Lula conheceu em seus dois primeiros mandatos.

O presidente ganhou um sócio. Ou melhor, 594 associados: 513 deputados e 81 senadores. Eles compartilham o orçamento da União em proporções jamais vistas. Em apenas sete meses, já destinaram mais de R$ 37 bilhões do seu, do meu, do nosso para os redutos eleitorais deles este ano.

O resultado desse volume inédito de recursos públicos canalizados mais para alguns lugares do que para outros em um ano eleitoral só será conhecido depois que os votos para prefeito e vereador forem contabilizados em outubro. Mas não é difícil imaginar as consequências da enchente de emendas:

1) prefeitos apadrinhados por deputados e senadores se reelegerão com mais facilidade do que os sem-padrinho;
2) candidatos de oposição aos apadrinhados terão muito mais dificuldade para derrotá-los do que em pleitos anteriores.

Esses prováveis efeitos favoráveis a uma taxa inédita de reeleição e ao continuísmo dos atuais prefeitos não é igual para todos os partidos, porém.

As sete legendas que mais detêm prefeituras em cidades médias e grandes são também as que mais distribuíram verbas do orçamento federal para seus redutos eleitorais. Devem crescer mais que as outras. Mas, mesmo entre os Top 7 o crescimento será desigual.

Os partidos que acumulam as duas principais vantagens eleitorais - ou seja, gordas fatias orçamentárias e um grande número de prefeituras já sob seu domínio - são as siglas do que eu chamo de Arenão. Os fãs do "é dando que se recebe": PSD (do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco), União Brasil, MDB, PL (de Bolsonaro), PP (de Arthur Lira) e Republicanos (de Tarcísio de Freitas).

O PT também abocanhou um par de bilhões do orçamento, mas tem muito menos prefeitos no poder do que seus concorrentes.

E daí?

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Os partidos do Arenão devem crescer em prefeituras e vereadores em outubro próximo. Daqui dois anos, em 2026, os eleitos em 2024 serão cabos eleitorais fundamentais para eleger mais deputados e senadores do PSD, do União Brasil, do MDB, do PL, do PP, do Republicanos. Com bancadas maiores no Congresso, o Arenão terá direito a uma fatia ainda mais gorda do orçamento da União. Mais verba do fundo partidário. Mais poder.

O presidente que for eleito em 2026 estará ainda mais suscetível à pressão do Arenão. E, se nada mudar, o eleito em 2030 estará em situação ainda mais precária. Isto é o "parliramentalismo", nome dado em homenagem àquele que se consolidou como um ministro sem pasta do governo, de qualquer governo. E que deixará esse legado aos seus sucessores na presidência da Câmara: Arthur Lira.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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