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Pablo Marçal desafia Bolsonaros e avança na direita

Pablo Marçal, o empresário e influencer que disputa a Prefeitura de São Paulo pelo minúsculo PRTB, conseguiu o que, até agora, nenhum outro político havia conseguido. Desafiou a família Bolsonaro dentro do campo da direita e está conseguindo, por enquanto, ganhar simpatia e intenções de voto entre eleitores que sufragaram o ex-presidente - e contra a vontade dos Bolsonaros. Sobram sinais desse avanço inédito, que provocou uma ríspida reação de Eduardo e Jair Bolsonaro nas redes sociais.

No Google Trends, que mede a quantidade de buscas por uma palavra, nome ou expressão no Google, Marçal conseguiu ultrapassar as buscas por Bolsonaro e por Lula. Isso ocorreu depois que ele passou a bagunçar todos os debates de que participou com ou sem seus principais adversários na corrida eleitoral em São Paulo e bombar os trechos de zoação com os outros candidatos nas suas poderosas redes sociais.

Nunca antes outro político conseguira desbancar Lula e Bolsonaro nesse termômetro da curiosidade dos brasileiros que é o Google Trends. O feito inédito é especialmente significativo por acontecer em um período eleitoral, e antes do início da propaganda dos candidatos no rádio e na TV.

Levantamentos das consultorias Palver e Arquimedes demonstram que o fenômeno se repetiu em algumas redes sociais. E mesmo nos meios onde Marçal não superou os dois astros da política brasileira, ele provocou fissuras no bolsonarismo.

Segundo a Palver, Marçal conseguiu também rachar os grupos de bolsonaristas no WhatsApp e no Telegram. Muitas mensagens dizem que os eleitores de Bolsonaro não vão votar no candidato apoiado pelo ex-presidente em São Paulo, ou seja, o atual prefeito Ricardo Nunes, do MDB.

Por qual motivo? Grande parte dos bolsonaristas prefere um candidato "contra o sistema", como Marçal, do que um exemplar típico da política tradicional como Nunes. As pesquisas de intenção de voto comprovam isso.

Depois deste episódio do podcast A Hora ter sido gravado, o Datafolha divulgou pesquisa na quinta-feira (22) à tarde e mostrou crescimento de Pablo Marçal em São Paulo. Ele subiu de 14% para 21% das intenções de voto em duas semanas e empatou na liderança com Guilherme Boulos (PSOL), que oscilou de 22% para 23%, e com Ricardo Nunes (MDB), que foi de 23% para 19%.

Os três estão em empate técnico, mas com uma diferença fundamental: Marçal está crescendo, Nunes está perdendo força e Boulos está estável. Mais preocupante para a família Bolsonaro, Marçal saltou de 29% para 44% das intenções de voto entre os eleitores que dizem ter votado em Jair Bolsonaro em 2022. É o líder nesse segmento, assim como entre os homens e entre os eleitores que se declaram evangélicos.

Nem todas as notícias são boas para Marçal, porém. A rejeição a ele cresceu de 25% em maio para 34% agora. Está no mesmo nível da rejeição a Boulos (37%). Tão ou mais importante quanto o dado quantitativo, é o qualitativo. Entre os que dizem não votar nele de jeito nenhum, há figuras de peso do campo da direita.

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, abomina Marçal. Talvez porque veja nele um possível rival em 2026, seja na disputa pelo governo estadual, seja na eleição presidencial.

Outro bolsonarista com temor semelhante é o filho 03 de Jair Bolsonaro. O deputado Eduardo Bolsonaro pretende disputar uma vaga ao Senado em 2026 e, com o crescimento eleitoral de Marçal, teme vir a enfrentá-lo daqui a dois anos nas urnas em São Paulo.

Nesta quinta-feira, Eduardo bateu boca com o candidato influencer via redes. Chamou Marçal de "arregão", por ele ter cancelado uma entrevista com outro influencer bolsonarista que queria saber a opinião do candidato sobre o arqui-inimigo dos bolsonaristas, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Marçal não fala mal de Moraes em público.

Em resposta ao filho, Marçal trocou mensagens públicas com o pai via redes sociais. Ele "cobrou" que Jair Bolsonaro devolvesse R$ 100 mil que disse ter "investido" na campanha do ex-presidente em 2022. Tudo indica que a disputa entre os Bolsonaro e Marçal não vai parar por aí.

A família dominante da direita no Brasil percebeu que Marçal tem o potencial de criar um precedente perigoso para sua hegemonia. Se bem-sucedido eleitoralmente, Marçal pode servir de exemplo para outros bolsonaristas bons de voto seguirem caminho próprio, longe da sombra e da subserviência ao clã Bolsonaro.

Por outro lado, o jeito que Marçal conseguiu para fazer isso pode vir a se transformar também no motivo de sua derrocada. Ele remunera centenas de pessoas nas redes sociais para que postem e bombem seus vídeos. O Ministério Público eleitoral considera a prática abuso de poder econômico e pediu a suspensão de sua candidatura. Há outras pendências judiciais contra Marçal que podem acabar por retirar seu nome da urna ou, em caso de ele disputar e vencer, levar à sua cassação.

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Mesmo nesse caso, Marçal ainda poderia tentar dar a volta por cima, se vitimizar e voltar em 2026 como o "verdadeiro" candidato antissistema e contra a política tradicional. Nenhum desses cenários é bom para a hegemonia de Bolsonaro na direita.

Escute a íntegra do podcast A Hora

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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