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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

8M: luta cansativa para quem faz e para quem testemunha

Dia da Mulher diversas - Getty Images/iStockphoto
Dia da Mulher diversas Imagem: Getty Images/iStockphoto

Raquel Cavalcanti Ramos Machado é Professora de Direito Eleitoral e membro da ABRADEP. Jéssica Teles de Almeida é Professora de Direito Eleitoral e membro da ABRADEP.

08/03/2022 10h28

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"Brasil levará 120 anos para ter equilíbrio entre homem e mulher na política".

"Mais de 2 bilhões de mulheres têm menos oportunidades e direitos econômicos que homens no mundo".

Não são dados de 1922. São constatações de 2022, 100 anos após uma série de mudanças que buscaram garantir às mulheres dignidade jurídica.

Inquietam qualquer leitor(a), não é mesmo? Afinal, percebemos ainda haver algo muito errado persistindo.

O significado político, social, histórico e jurídico do dia da mulher é muito potente. E temos pensado bastante sobre como precisamos, coletivamente, desenvolver empatia responsiva.

Sem o exercício pleno das liberdades, tempo de qualidade para dedicação às atividades políticas, que a sobrecarga nos tira, dificuldades financeiras e violência de gênero, nossa participação política é minada, contribuindo para diminuir a presença de mulheres em cargos de poder. Isso prejudica o debate qualificado e a tomada de decisões sobre questões fundamentais que também nos dizem respeito.

Queremos chamar a atenção dos homens para a "empatia responsiva": ouvindo, respeitando, incluindo, defendendo, não julgando e pensando em como podem nos ajudar a mudar a realidade acima apresentada, que é muito cruel, presente e latente. Persistente. Mas desenvolver empatia responsiva exige estar disposto a ter uma visão estratégica da história e da sociedade, olhando para o passado, presente e futuro.

É entender estar inserido, pela simples condição de nascer homem, em um meio social cujas estruturas naturalmente lhe beneficiam, você querendo ou não, sendo um homem bom, mau, branco, negro, rico, pobre ou de diferentes orientações sexuais.

Se vocês estão cansados de nos testemunhar lutando, podem imaginar como estamos exaustas de carregar nossas dores individuais, do pertencimento coletivo e da condição de gênero? De nos sentirmos desconcertadas e constrangidas em constantemente termos de justificar nossa luta? De notarmos vocês cansados, alguns indiferentes ou até mesmo convencidos de que as condições de plena igualdade já foram alcançadas?

Estamos do mesmo lado: do cansaço. E cada vez mais exaustas de uma luta que vem consumindo quem faz e quem testemunha. Algo ou alguém não está cooperando. E a justiça (e também a Justiça) está tardando e falhando.

A igualdade urge e a consciência contemporânea de que nós, mulheres, somos capazes esbarra cotidianamente em estruturas obsoletas que impedem a realização de todo nosso potencial.

Luta cansativa, justiça falha e tardia, estruturas obsoletas de poder e ausência de empatia responsiva dos homens, só nos revelam que revoluções e medidas mais drásticas ainda são muito necessárias.