Juiz afirma que forneceu cópia 'imediatamente' para Raquel Dodge
O juiz André Ricardo de Francisco Ramos, titular da 28ª Vara Criminal do Rio responsável pelo inquérito da Polícia Federal sobre obstrução do caso Marielle, afirmou que concedeu cópia do processo "imediatamente" à então procuradora-geral da República Raquel Dodge depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) proferiu essa determinação e negou que tivesse descumprido liminar do tribunal.
Quando a PF concluiu esse inquérito, em maio de 2019, o delegado Leandro Almada enviou o relatório final ao Ministério Público do Rio de Janeiro, que denunciou duas pessoas pela obstrução, o policial Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, e a advogada Camila Moreira, mas também pediu o compartilhamento das provas com Raquel Dodge.
O MP do Rio se manifestou contra o envio dos autos à Procuradoria-Geral da República (PGR). À época, o juiz André Ramos rejeitou o pedido de compartilhamento feito a ele pela PF sob o argumento de que o processo estava em "segredo de Justiça".
"Ela [Raquel Dodge] me pedia o inquérito da Polícia Federal que gerou a ação penal contra o Ferreirinha e a Camila, que estava na minha vara. Os 24 primeiros volumes do meu processo eram iguais ao da (ação penal inicial de) Marielle. Lá tinha segredo de Justiça de tudo, o que atingia os 24 volumes do meu processo. Aí eu fiquei com medo de violar o sigilo do processo, informei ao delegado que estava em segredo de Justiça e eu não tinha como fornecer", disse ao UOL.
O juiz prosseguiu: "A doutora Raquel Dodge foi ao STJ, impetrou um mandado de segurança e o ministro Raul Araújo deu uma liminar para que eu fornecesse a cópia. Eu imediatamente forneci a cópia". A decisão do STJ chegou à sua Vara no dia 2 de setembro e, naquele dia, ele proferiu uma decisão determinando que o TJ do Rio tirasse cópia do material para fornecer à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Ele disse ter cumprido a ordem do STJ e providenciado o fornecimento de cópia "em menos de 48 horas". "Veio a liminar do STJ e aí eu cumpri. Mas quando veio a liminar, veio uma procuradora para pegar cópia do processo, eu falei: 'Não, não pode levar'. Eu providenciei cópia em menos de 48 horas. O problema todo é que ela [Raquel Dodge] pediu muito em cima da saída dela [da PGR]", disse.
"A doutora Raquel mandou a procuradora do Rio de Janeiro ao meu gabinete para tirar cópia. Eram mais ou menos cerca de trinta volumes, e de uma ação penal que estava em curso. Era físico, não tinha nada virtual. Aí eu falei pra procuradora: 'Isso é uma ação penal, o processo é físico, tem vários CDs aqui dentro, se alguém perde algo disso, como é que vai ficar? Eu não posso permitir a saída dos autos'", relatou.
"Eu mandei o tribunal preparar cópia do dia para a noite. Me virei, botei num malote e mandei para Brasília. A doutora Márcia veio depois perguntar onde estava, eu falei que já havia mandado. Ela foi lá e interceptou nos Correios o processo", concluiu.
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