PT quer mirar em Doria e Garcia para poupar Alckmin

A aproximação entre Lula e Geraldo Alckmin impôs um desafio inesperado ao PT em São Paulo: como criticar o "tucanistão" (os quase 28 anos de governos do PSDB no estado) sem atacar o ex-tucano e agora neo-aliado do ex-presidente petista? Os petistas estão divididos, mas todos reconhecem que a solução não será simples, ainda mais a partir de agora, com a possível adesão do PSOL de Guilherme Boulos à aliança liderada por Fernando Haddad.

Afinal, Alckmin esteve à frente do Palácio dos Bandeirantes por quatro mandatos (quase 13 anos), todos no PSDB. No entorno de Haddad, o pré-candidato do PT ao governo, o comando de sua pré-campanha acredita ser possível, ao menos na largada. A ideia é centrar fogo em um inimigo comum a ambos, a gestão João Doria, o atual governador, e, nos sonhos petistas, o último da "dinastia tucana", iniciada em 1995 com Mario Covas (1930-2001), de quem Alckmin era vice.

"É uma tragédia este governo (Doria). Ele piorou o estado até em relação ao Alckmin", diz Luiz Marinho, presidente do PT-SP. O pré-candidato do PSDB ao governo é Rodrigo Garcia, o atual vice, prestes a assumir o comando do Palácio dos Bandeirantes a partir de abril próximo. "É ele quem está governando desde o primeiro dia deste mandato, ele e Doria são a mesma coisa", diz Luiz Marinho, presidente do PT-SP.

Os petistas reconhecem que a aliança Lula-Alckmin impõe dificuldades narrativas e poderá servir de munição a adversários de Haddad no estado. Também compreendem a posição delicada de Haddad, que se aproximou de Alckmin e conta com ele como puxador de votos no interior paulista. Para os mais "moderados", o alvo preferencial do PT, incluindo questões estratégias de futuras alianças com o PSDB em eventual segundo turno, tem de ser o "bolsonarismo" e, portanto, Tarcísio Gomes de Freitas, o pré-candidato de Jair Bolsonaro no Estado.

Mas as alas mais à esquerda do PT-SP avaliam ser muito difícil centrar fogo apenas em Doria. Marinho reconhece a dificuldade: "A crítica ao desastre da tucanagem em São Paulo nós temos de fazer e faremos na campanha. Nossas bandeiras continuam as mesmas".

Alckmin, hoje no PSB, deixou o PSDB praticamente rompido com Doria e com a atual direção estadual do partido. Porém, segundo seus aliados, o ex-governador, agora no PSB, ainda é e sempre será "muito zeloso" de seu legado no comando do estado. Ou seja, ataques desmedidos causarão constrangimentos eleitorais a Lula, caso o ex-tucano seja mesmo confirmado como vice do ex-presidente, conforme tudo indica.

As dificuldades do PT paulista podem ficar ainda maiores se Márcio França (PSB) e Boulos (PSOL) foram atraídos para dentro da aliança em torno de Haddad, mas por sinais trocados. França também governou o Estado, em 2018, em uma gestão marcada pela continuidade das políticas tucanas. Ele era vice de Alckmin. Na outra ponta, Boulos é crítico feroz do "tucanistão" e não estaria disposto a negociar tréguas nem recortes de gestões.

Prestes a montar sua maior aliança para disputar o Bandeirantes, o PT terá de lidar com questões e "incoerências" político-partidárias que ele sempre criticou em seus adversários no estado, onde ocupa, desde a redemocratização, em 1985, o posto de principal opositor da centro-direita e, consequentemente, do PSDB.