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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Flávia Arruda deixa o Planalto como sobrevivente das intrigas e do machismo

Ministra Flávia Arruda, que está deixando o Planalto - Eduardo Menezes/Secretaria de Governo
Ministra Flávia Arruda, que está deixando o Planalto Imagem: Eduardo Menezes/Secretaria de Governo

Colunista do UOL

31/03/2022 04h02Atualizada em 31/03/2022 12h15

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Flávia Arruda deixa nesta quinta-feira (31) a Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro na condição de sobrevivente política das pesadas intrigas palacianas que derrubaram do Planalto pesos-pesados como Santos Cruz e Gustavo Bibiano. Durante todo o período em que esteve no cargo (um ano), ela também não deixou de ser vítima do machismo estrutural, inclusive nestes últimos dias de mandato.

Em dezembro do ano passado, Flávia Arruda, filiada ao PL, enfrentou uma campanha de intrigas orquestrada por líderes da base governista, com apoio de colegas dela no palácio, pela sua demissão. Veículos de comunicação chegaram a anunciar a queda da ministra. Ela permaneceu no cargo.

O jogo se tornou machista e, portanto, rasteiro, em 2022. Uma onda de boataria varreu os bastidores do poder neste mês e incluiu especulações sobre a vida privada dela, que tem 42 anos de idade, é mãe de duas filhas e é casada com o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.

Na sexta-feira passada, 25, no entanto, Jair Bolsonaro, afirmou, em tom de agradecimento e de despedida, em um evento no Planalto, que sua ministra da Secretaria de Governo "fez um trabalho impecável". Agora, Flávia Arruda reassumirá o mandato de deputada federal pelo DF, enquanto aguarda o início da campanha eleitoral: deve concorrer a uma vaga no Senado pelo Distrito Federal. Ela é a única ministra abrigada no Planalto, onde estão, por exemplo, Ciro Nogueira (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), todos disputando diariamente a atenção do presidente da República e nacos de seu poder.

Flávia Arruda chegou à Secretaria de Governo em março de 2021, onde Santos Cruz, por exemplo, não prosperou, vítima de uma rede intrigas e desconfianças. A ministra teve o aval de Arthur Lira (Progressistas-AL) e de Valdemar da Costa Neto (PL), padrinhos importantes. Mas ela sabia que apenas a influência deles não bastaria.

O momento era tenso porque a articulação política do Planalto com o Congresso estava ruim e o então ocupante do cargo, Luiz Eduardo Ramos, foi alvo de muitas críticas. A entrada de Flávia Arruda no ministério provocou uma dança das cadeiras: Ramos acabou deslocado para a Casa Civil, empurrando Braga Netto para a Defesa. De lá pra cá, a ministra fez mais de 1.500 audiências públicas com políticos (parlamentares, prefeitos, senadores) e ajudou o governo em momentos decisivos, como a prorrogação da isenção de ICMS ao comércio,

Em privado, segundo apurou a coluna, a ministra desabafou recentemente com assessoras e amigas parlamentares. Disse que não aguentava mais as "maledicências machistas", proferidas dentro e fora do palácio. Muitas delas questionavam a competência da ministra e relacionavam sua ascensão no mundo da política ao fato de ser uma mulher em um ambiente predominantemente masculino, fazendo ilações sobre sua conduta e seus atributos físicos.

Flávia Arruda poupa Jair Bolsonaro de críticas nesse sentido, costuma dizer que ele dispensou a ela o mesmo tratamento destinado aos ministros homens. Questionada pela coluna sobre o assunto, a ministra, por meio da assessoria, se limitou a dizer que apenas se preocupou em trabalhar no tempo em que esteve no Planalto, "sem nunca entrar nas intrigas e sem responder a elas".