Brasileiro diz em audiência que queria matar Kirchner: 'Ato de justiça'
O brasileiro Fernando Montiel, principal acusado pela tentativa de assassinato a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner disse nesta quarta-feira (26), no primeiro dia de audiência, que é apolítico e que não tem envolvimento com grupos políticos-partidários-ideológicos. Afirmou que o atentado teve motivação pessoal. Segundo ele, sua motivação foi uma insatisfação política diante do governo desse momento, que tinha Cristina como vice-presidente e Alberto Fernandez como presidente.
Montiel afirmou em depoimento que "parte da justiça argentina não funciona" e que ele era efeito de um sistema social que não funcionava. "Carregava uma mochila e tentei pagar o preço que outros não fizeram", afirmou o acusado referindo-se a insatisfação de outros argentinos que ele representava.
O acusado, de modo muito tranquilo e pausado, disse que Cristina é corrupta, rouba e que a maioria das pessoas sentem a mesma frustração que ele. "Foi um ato de justiça e não para me favorecer", afirmou. O acusado também disse que atuou de forma "ética, comprometido com o bem social do país".
Esta é a primeira audiência sobre o caso. Mais de 200 testemunhas serão ouvidas no Tribunal Oral Federal 6, em Buenos Aires, e as audiências serão todas as quartas-feiras.
Durante o depoimento, ele disse que queria matar Cristina e que sua namorada, Brenda Uliarte, também acusada pela tentativa de assassinato, queria que Cristina morresse. Afirmou ainda que Brenda o acompanhou no dia do crime porque ela queria ver, como se aquela situação fosse um jogo que a estimulava. "Eu pessoalmente me senti humilhado por ter tido um bom passado econômico e me tornei um vendedor de algodão doce".
O atentado
A então vice-presidente da Argentina e uma das principais figuras politicas do país, Cristina Kirchner foi alvo de uma tentativa de homicídio em setembro de 2022.
Foi no dia 1º daquele ano, quando Fernando Sabag Montiel passou por cerca de 100 policiais federais e se misturou aos militantes peronistas que esperavam Kirchner em frente ao apartamento dela. Montiel engatilhou uma arma de calibre 38 a centímetros da então vice-presidente e disparou algumas vezes, mas a arma falhou.
Na época do atentado, a defesa de Cristina Kircnher alegou que os principais líderes do grupo de extrema-direita, conhecido como Revolução Federal, promoviam, em grupos de WhatsApp e redes sociais, mensagens de ódio contra a vice-presidente. Essa hipótese, no entanto, não foi considerada na investigação, o que gerou insatisfação por parte dos advogados da política.
Na ocasião, Cristina recebia apoio de militantes devido a um processo no qual respondia por corrupção em contratos públicos da época em que foi presidente (2007-2015), e pelos quais foi condenada posteriormente.
No dia do ataque, Kirchner contava com uma equipe de segurança de mais de 100 policiais federais. A repercussão da tentativa de assassinato ganhou as paginas dos jornais do mundo inteiro. O então presidente da Argentina, Alberto Fernandez, classificou o atentado como "o mais grave desde 1983, quando o país voltou a ser uma democracia".
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