Amanda Cotrim

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Reportagem

Pobreza dispara na Argentina e afeta mais mulheres e aposentados

A Anistia Internacional, organização de mobilização por justiça social no mundo, enviou uma carta ao presidente Javier Milei, da Argentina, informando estar "alarmada com o aumento da pobreza no país". No documento de 35 páginas, a entidade demonstra "sérias preocupações", sobretudo com mulheres e aposentados.

Segundo a organização, a pobreza aumentou de 41,7% para 52,9% na Argentina em um ano e já afeta 15 milhões de pessoas. O organismo também ressaltou que 1 milhão de crianças vão dormir sem jantar, segundo dados da UNICEF de 2024.

Mulheres e aposentados são mais atingidos por ajuste

Para a Anistia Internacional, as políticas de ajuste do novo governo atingiram em cheio mulheres e setores mais vulneráveis da sociedade, como os aposentados, cujos salários mínimos recebidos não cobrem os gastos básicos com alimentação, roupa e transporte. De acordo com o relatório, mais de 3 milhões de aposentados estão abaixo da linha da pobreza.

Em 2024, centenas de aposentados marcharam em dezenas de protestos contra a política de austeridade de Javier Milei. O país tem 6,5 milhões de pessoas nessa situação. Seis de cada dez recebem a aposentadoria mínima, fixada em outubro em 244 mil pesos (R$ 1.300).

Segundo dados oficiais, uma pessoa precisaria no segundo semestre de 320 mil pesos (R$ 1.700) para cobrir gastos com alimentação, vestuário e transporte.

Aumento da pobreza na Argentina já era esperado, até por Milei

Ainda em campanha e ao assumir o posto de presidente, há pouco mais de um ano, Javier Milei propôs uma desacelaração da inflação, o que, de fato, aconteceu. O político, porém, tinha alertado que, de começo, poderia acontecer um aumento da pobreza no país, ajuste que seria feito nos demais anos.

O presidente argentino prometeu a redução do Estado, o que ele chama de "casta política". E tem cumprido. Por meio de um super decreto nos primeiros dias de governo e de projeto de lei inicialmente conhecido como "Lei onibus" - Lei de Bases - por causa da extensão do texto e por mudar diversas leis de uma só vez, o presidente argentino iniciou sua batalha pelo déficit zero e seu desejo de privatização de empresas estatais.

Anistia Internacional também alerta para a repressão

A repressão ao protesto em vias públicas também foi apontada pela Anistia Internacional como uma política contra os direitos humanos. O atual governo restringiu o direito à reunião pacífica e criou um protocolo anti-protesto de rua, que proíbe manifestações. O organismo internacional afirmou que o governo Milei fez "uso excessivo de balas de borracha e gás lacrimogêneo, além de detenções arbitrárias e agressões a jornalistas".

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O acesso à informação pública também foi criticado pela Anistia. Segundo o organismo, o governo Milei restringiu o acesso a esse direito em 2024, por meio de um decreto, o qual limita o trabalho de jornalistas, organizações não governamentais e a população em geral.

Aborto legal e combate à violência contra mulher ameaçados

Um dos pontos mais ameaçados, segundo a Anistia Internacional, foi a política de interrupção voluntária da gestação aprovada em dezembro de 2020. Segundo o relatório, a lei foi deteriorada na gestão Milei, afirmou o documento.

O presidente da Câmara de Deputados da Argentina, Martin Menem, realizou diversas ameaças sobre derrubar a lei de aborto no país. Suas declarações geraram reação de movimentos feministas e protestos

Os direitos das mulheres e a proteção das mesmas diante de uma violência sofrida foram reduzidos, apontou o relatório. O governo Milei fechou o Ministério de Mulheres e Diversidade do país, logo que assumiu, há um ano, uma promessa de campanha.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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