Juiz está no centro de operação da PF sobre "sindicato" de propina em MG
Revelado por esta coluna do UOL no último dia 2 de novembro, o suposto "sindicato" de advogados e juízes sob investigação na Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), sob suspeita de desviar recursos de empresas falidas, foi alvo de uma operação deflagrada pela PF (Polícia Federal) no estado nesta terça-feira (24).
No centro das investigações está o ex-juiz da 3ª Vara Cível de Sete Lagoas, Flávio Prado Kretli, afastado compulsoriamente pela Corte Especial do TJ-MG sob a acusação de desviar R$ 50 milhões do patrimônio da massa falida da Construtora Marialva Ltda. As investigações atingem também o sucessor de Kretli na vara, o juiz José Ilceu Rodrigues, advogados e supostos "laranjas".
Equipes da PF cumprem 26 mandados de busca e apreensão expedidos pela 1ª Vara Criminal de Sete Lagoas, a 70 km de Belo Horizonte. Até o fechamento deste texto, já haviam sido apreendidos R$ 160 mil nas casas e estabelecimentos comerciais dos acusados, que estão proibidos de viajar e de se comunicar entre si durante as investigações.
Patrimônio incompatível
Kretli, segundo levantamento do UOL divulgado no começo deste mês, adquiriu, nos últimos seis anos, seis madeireiras e empresas de extração de madeira, quatro fazendas, espalhadas pelo norte de Minas Gerais e vários imóveis no estado, em Sete Lagoas, Belo Horizonte e Teófilo Otoni. O enriquecimento do ex-juiz é apontado também em um relatório da Corregedoria anexado ao acórdão da Corte do TJ-MG, que determinou o afastamento dele.
Documentos analisados pela coluna mostram que de 2014 a 2015 o patrimônio do juiz, que tinha um salário mensal de R$ 22 mil, subiu de R$ 600 mil para quase R$ 1,8 milhão. A partir de 2012, o ex-juiz deixou de apresentar suas declarações de bens à Justiça, segundo o relatório. No acórdão do TJ-MG que determinou o afastamento em 2018, os desembargadores concluíram de forma unânime que Kretli nomeava advogados, que seriam seus testas-de-ferro, para administrar massas falidas de empresas.
Os desembargadores concluíram que o ex-juiz e seus aliados montaram uma espécie de "sindicato". O dinheiro da massa falida do grupo Marialva e de outras 10 empresas era repassado por meio de honorários acima dos estipulados pela legislação aos administradores judiciais em contas de "laranjas", pessoas próximas ao ex-juiz.
A maior parte da bolada retornava para o então juiz, segundo o relatório. De acordo com a Corte, os administradores de massas falidas eram "pessoas íntimas" e sem qualificação para a função.
Procurado pela coluna na ocasião, o juiz Kretli não foi encontrado. Em 2013, o então juiz pediu transferência da comarca de Teófilo Otoni, onde atuava, sob a alegação de que estaria sendo ameaçado por uma quadrilha de traficantes incomodada com suas decisões judiciais.
Apesar de estar proibido de exercer o cargo de juiz (pena máxima aplicada aos magistrados), o juiz continua recebendo salário em torno de R$ 20 mil.
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