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Amaury Ribeiro Jr

Combate ao fogo segue no Pantanal, agora em meio a cemitérios de animais

Carcaça de animal consumido pelo fogo na região do Pantanal. Material orgânico de "cemitérios" serve de combustível para novos incêndios - Angelo Rabelo/Fundação Homem Pantaneiro
Carcaça de animal consumido pelo fogo na região do Pantanal. Material orgânico de "cemitérios" serve de combustível para novos incêndios Imagem: Angelo Rabelo/Fundação Homem Pantaneiro

03/12/2020 04h03

Na última terça-feira, as imagens de satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontavam ainda 62 focos de incêndio no Parque Nacional do Pantanal e outros 22 nas áreas de proteção ambiental na Região da Serra do Amolar, em Mato Grosso do Sul.

Embora ainda trabalhem dia e noite no combate do fogo, brigadistas e ambientalistas já começam a contabilizar os prejuízos em 70% das matas e vegetações do parque. Os especialistas acreditam que o Pantanal, adaptado aos ciclos das secas e cheias, tem capacidade para se recuperar em grande parte.

O que mais preocupa é a grande quantidade de aves e animais silvestres que apareceram mortos, espalhados em verdadeiros "cemitérios" nas áreas totalmente destruídas pelo fogo.

"Os cemitérios de animais silvestres, principalmente de animais de pequeno porte e aves estão espelhados por todo lado. É impossível se calcular o número de espécies que foram mortas", afirma Ângelo Rabelo, presidente da Fundação Homem Pantaneiro, que comanda os trabalhos de combate aos incêndios na região da Serra do Amolar.

Rabelo acredita que as onças e outros animais maiores tenham se refugiado na região do Chaco (Pantanal Boliviano).

Estudantes das escolas e funcionários do Judiciário de Mato Grosso do Sul que promovem campanhas para arrecadar fundos e comprar comida para os animais. Em meio à pandemia, os estudantes se aventuram a jogar alimentos nas regiões ribeirinhas de Corumbá na esperança de que os bichos que abandonaram a área voltem ao habitat natural deles.

Piloto de helicóptero morreu combatendo incêndio

O clima de tristeza que toma conta da região aumentou ainda mais com a morte na última segunda-feira do piloto do helicóptero, Mauro Tadeu, coronel do Corpo de Bombeiros do Pará. A aeronave, de propriedade do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) caiu por volta das 18 horas quando o piloto tentava retirar água com uma bolsa (chamada de bambi) de uma lagoa para apagar o incêndio.

"O trabalho dele era exaustivo, carregava 500 litros de água (o que é muito pouco) que tinham de ser lançado em poucos minutos devido à evaporação e ele imediatamente voltava para repetir a operação", disse Rabelo. "Está todo mundo exausto, a chuva não veio com força na região, o que não tem nos ajudado muito."

Rabelo enviou um vídeo para o UOL, com outra aeronave, que mostra o trabalho que o comandante realizava quando sofreu o acidente.

Dificuldades como essas estão levando as organizações de proteção de Ambiental, com o apoio do governo do Mato Grosso do Sul, a se preparar para enfrentar futuros incêndios.

Material orgânico serve de combustível ao fogo, diz especialista

Além de adquirir novos equipamentos, a Fundação Homem Pantaneiro passará a contar com uma brigada permanente de combate ao fogo, formada por moradores da região. "Não queremos mais ser pegos de surpresa", disse Rabelo.

"Estive na região do Amolar, e vi uma cena inacreditável. Os bombeiros tentando apagar o fogo com uma bomba costal de 20 litros. Isso não adianta nada. Tem de haver um trabalho preventivo", disse ao UOL o botânico Arnildo Potti, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que trabalhou na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de Corumbá.

Com mais de 40 anos de experiência em pesquisa no Pantanal, Arnildo está convicto de que haverá novos incêndios na região nos próximos três anos. "Há ainda muito material orgânico que serve de combustível. Daí toda a prevenção é pouca", afirma.

Presidente da Sociedade de Defesa do Pantanal e ex-chefe da Embrapa de Corumbá, o veterinário Nílson de Barros, um dos primeiros a denunciar o assoreamento do Rio Taquari (que destruiu parte da planície pantaneira), sempre acreditou no poder de reação do Pantanal. "O Pantanal, um ecossistema ainda em formação, sempre esteve preparado para reagir aos períodos de secas e cheias cíclicas".

Na última terça-feira Barros comemorava a vegetação verde que voltara brotar na região de Corumbá. Filho de pantaneiro, Barros recebeu a notícia de que 162 onças pintadas haviam regressado para uma fazenda da região. Outros 60 felinos da mesma espécie, monitorados via satélite, também regressaram à Fazenda Cayman no município de Miranda. "A onça-pintada é igual ao Pantanal. É boa de luta", disse.