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Música do Olodum que embala luta por ouro no boxe é hino da periferia
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O boxeador baiano Hebert Conceição, que disputará a medalha de ouro da categoria 75 kg, escolheu a música Madiba, do Olodum, para embalar suas entradas no ringue na Olimpíada de Tóquio.
O atleta de 23 anos lutará no sábado (7) e junto com a também baiana Bia Ferreira, da categoria de 60 kg, forma as duas finais com brasileiros no esporte. O peso-pesado Abner Teixeira já garantiu a primeira medalha de bronze nesta edição dos Jogos Olímpicos.
Nobre guerreiro negro de alma leve / nobre guerreiro negro lutador / que os bons ventos calmos assim te levem aonde você for
Os versos compostos por Raimundo Bida e Marquinhos Marques, para o Carnaval de 2015, celebram o líder sul-africano Nelson Mandela, chamado de Madiba por seu povo.
Olodum cantou por libertação de Mandela
Ao longo da história de 42 anos de fundação, o Olodum homenageou Nelson Mandela diversas vezes.
O líder da luta contra o apartheid na África do Sul, que presidiu o país entre 1994 e 1999, após 27 anos na prisão por liderar as mobilizações contra o regime segregacionista, tornou-se símbolo da igualdade, da não-violência e da busca da união entre brancos e negros para a reconstrução da nação sul-africana.
O Olodum foi uma das muitas vozes mundiais que reivindicaram a libertação de Mandela, nas décadas de 1970 e 1980. Essa se tornou uma pauta central para os movimentos negros no Brasil e para os blocos afro da Bahia.
O hino Nkosi Sikelele Africa, do Congresso Nacional Africano, organização de Mandela, passou a integrar o repertório do Olodum, que popularizou a canção em atos pela liberdade e contra o regime colonial.
Finalmente, em 5 de agosto de 1991, um ano após sair da prisão, Mandela visitou Salvador. Cem mil pessoas se aglomeraram na Praça Castro Alves para saudá-lo e mostrar como sua luta tornou-se inspiração. Os tambores do Olodum ecoaram na recepção a Madiba.
A postura pacifista de Mandela pode até parecer contraditória ao boxe, esporte de luta. Mas a mensagem da canção do Olodum para os jovens de periferias como o bairro de Pau da Lima, onde mora Hebert Conceição, é de libertação e resistência ao racismo e a todas as formas de opressão."
As músicas do Olodum, que falam da África, seus heróis e heroínas, e também de levantes brasileiros como a Revolta de Búzios (1798), constroem narrativas de elevação da autoestima para comunidades que precisam enfrentar a exclusão de direitos fundamentais e privação dos sonhos.
Música circula entre 'olodúnicos' para além do rádio
O discurso de Hebert Conceição, após as vitórias em Tóquio, mostra a confiança de um lutador. De alguém que reconhece sua capacidade, seus esforços e sabe que pode ir muito longe, muito mais que o racismo tentar impor.
O interessante é que canções como Madiba, que embalará a luta de Hebert pelo ouro olímpico, não toca na programação das rádios e emissoras de televisão. Nem na Bahia.
São músicas apresentadas nos ensaios dos blocos afro e no Femadum (Festival de Música do Olodum), realizado anualmente no Pelourinho. Os registros, muitas vezes em vídeos amadores feitos em celulares, circulam nas redes sociais e nos grupos dos Olodúnicos, jovens como Hebert, amantes do Olodum.
E mostram sua força ao serem entoadas pela juventude nas periferias de Salvador e nos batuques feitos no fundo dos ônibus que circulam pela cidade.
Justamente por saberem a força transformadora que há nestas canções-manifesto, a sociedade e os meios de comunicação tentam invisibilizar.
Mas tal qual a mensagem de Mandela, a música negra nascida dos tambores alcança o mundo, encontra vozes de ícones internacionais como Michael Jackson, Jimi Cliff e Paul Simon —artistas que gravaram com o Olodum— e sobe em um ringue olímpico em Tóquio.
Que esses bons ventos, nem sempre calmos, garantam muitas vitórias para Hebert e para a juventude negra, cheia de sonhos e esperança.
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