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André Santana

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Racismo não poupa ninguém, e reação de Ewbank e Gagliasso deve ser copiada

Colunista em UOL Notícias

31/07/2022 12h05

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Todo dia, todo santo dia, ativistas, intelectuais e artista negros e negras empreendem seus esforços e seu talento para alertar a sociedade, especialmente as pessoas brancas, a gravidade do racismo, cujas consequências atingem a todos, em menor ou maior proporção.

Não há como viver em paz em um mundo racista, seja qual for a cor da sua pele.

A não ser para quem se empenha em manter essa praga social, negando a sua existência e reproduzindo comportamentos de discriminação e opressão contra pessoas negras.

Para estes o inferno das leis. Felizmente, já há dispositivos legais para criminalizar racistas e a sociedade tem tomado conhecimento e denunciado. Ou seja, ninguém pode ter paz em um mundo racista.

A violência racial sofrida por Títi e Bless, filhos do casal Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso em um restaurante em Portugal, neste sábado, 30, só reforça que independentemente das condições financeiras, do reconhecimento público e, neste caso, da cor da pele dos pais, o racismo perseguirá a pessoa negra esteja onde estiver.

No terrível caso em destaque, o fato de serem crianças com apenas 9 e 7 anos, revela como a dinâmica do racismo atua para desumanizar logo cedo, impondo sua violência e sua determinação de lugar a ser ocupado pelos negros: "Pretos imundos", "Voltem para a África", xingava a agressora, mandando que eles fossem embora do restaurante.

Mães temem que o racismo atinja seus filhos negros

Mulheres negras sentem o temor de que seus filhos sejam vítimas das violências do racismo. Vivem também o medo de presenciarem situações como esta e não saberem como defender sua família. Esse sofrimento psíquico tem levado muitas a desistirem da maternidade ou tornado a decisão mais demorada e dolorosa. Receio também compartilhado por mulheres brancas, como Giovanna Ewbank, que decidem adotar crianças negras.

O casal já tinha abordado em entrevistas sobre as preocupações que tinham em relação às duas crianças viverem em uma sociedade racista.

À medida que aumenta a consciência sobre o racismo, mais aflição diante das ameaças cotidianas. Este é justamente o tema do texto desta coluna do dia 31 de julho, último dia do Mês da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.

Leia aqui: O que a desistência da mulher negra em ser mãe diz sobre consciência racial.

Reagir à violência racial não é um privilégio para todos

O privilégio de serem brancos talvez tenha feito a diferença no acesso à informação, ao conhecimento da lei e dos seus direitos e à atitude correta a ser tomada diante do crime cometido pela mulher que ofendeu as crianças e mais uma família de cerca de 15 turistas angolanos que se encontravam no restaurante, conforme comunicado da assessoria de imprensa do casal.

Enquanto Giovanna enfrentava a racista, com justas palavras motivadas pela revolta de uma mãe diante do sofrimento de seus filhos, o marido chamou a polícia, que levou a mulher escoltada e presa. A atitude do casal foi elogiada pelo público nas redes sociais e apontada como exemplar no tratamento a quem comete este tipo de crime.

Outro privilégio do casal que deve ser visto como algo positivo é a repercussão do caso. As imagens circulando e os aplausos públicos revelam que as pessoas já não toleram mais atitudes racistas.

A denúncia do fato, com a prisão da mulher - que depois já foi liberada, conforme informação do jornal português Público, pode provocar mais cautela em quem pensa em repetir comportamentos criminosos de injúria racial, além de encorajar outros pais e mães, sejam negros ou brancos, a não aceitaram passivamente que seus filhos sejam vítimas de violências semelhantes.

Nem sempre se tem a autoestima elevada e a tranquilidade de ocupar um espaço de poder econômico e social para agir no ímpeto e na firmeza que a situação exige. Neste sentido, pessoas brancas, ricas e famosas devem assumir um compromisso ainda maior no combate ao racismo, denunciando e tornando públicos casos graves como este.

O comportamento de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso deve ser copiado.

Quem sabe assim, com o racismo chegando tão próximo de pessoas admiradas pela sociedade, o empenho da denúncia feita todo dia, todo santo dia, por ativistas, intelectuais e artistas negros e negras possa finalmente sensibilizar a todos, especialmente pessoas brancas.

Afinal, não há como viver em paz em um mundo racista, seja qual for a cor da sua pele.