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Balaio do Kotscho

Para quando tudo isso passar... Onde há sinais de vida e de esperança?

Laura e seu Noca na comunidade Zabelê, na Serra da Capivara - Arquivo pessoal
Laura e seu Noca na comunidade Zabelê, na Serra da Capivara Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

09/06/2020 17h28

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Pode nos faltar tudo na vida, menos esperança.

Mais dia, menos dia, a pandemia e esse desgoverno demencial vão passar. Espero que seja logo.

Na semana em que completo 90 dias de confinamento total, enjaulado entre quatro paredes, ligado ao mundo apenas pela televisão, o computador e o celular, fico procurando sinais de vida e de esperança para quando tudo isso acabar e puder voltar a escrever sobre coisas mais agradáveis.

Passei a vida toda viajando pelo Brasil e pelo mundo em busca de boas histórias para contar, mas às vezes a gente descobre que elas estão mais perto de nós do que a gente pode imaginar.

Li hoje numa pequena nota publicada na coluna da Mônica Bergamo:

"Microfone — Gilberto Gil, Nando Reis, Mônica Salmaso e Tim Bernardes estão no lineup do festival online Piauífest, que será realizado no dia 14 de junho, em prol da Serra da Capivara, no Piauí. A live é organizada pelo Projeto Veredas, criado pelos alunos do Colégio Santa Cruz e que atua junto a comunidades dessa região do Piauí".

Em meio a tanta tragédia, em vez de ficar reclamando da vida, um grupo de jovens paulistanos do ensino médio está desde 2017 trabalhando pesado nesse projeto para ajudar famílias carentes do sertão do Piauí.

Por acaso, uma das líderes desse projeto é minha neta mais velha, Laura Kotscho, 17 anos, que não pensa em ir embora do Brasil, ao contrário de muitos da sua geração.

"Acho que o que nos resta é ter esperança. Acredito que minha geração está mais aberta para romper com a velha política, formada em sua maioria por homens brancos, héteros e conservadores e que, com certeza, não representam o povo brasileiro. Sentimos uma urgência de mudança que nos impede de deixar o nosso futuro à deriva."

O seu depoimento sobre o Projeto Veredas me encheu de esperança.

"Sinto que é uma troca mútua, pois ele também vem acrescentando muito na minha vida e aprendo constantemente com tudo isso. O projeto me ensinou e continua ensinando muito, pois sei na prática como conviver com ideias diferentes, trabalhar em equipe, e os desafios que um projeto com impacto real como esse carrega, pois tudo deve ser feito de forma muito responsável.

Acho que os vínculos e relações que formamos ao longo da vida com pessoas de realidades, histórias, culturas, crenças e saberes diferentes das nossas são as maiores relíquias que podemos guardar em nossas vidas. Fico feliz em poder participar deste projeto que, além de fazer a diferença na vida de muitas pessoas, faz diferença na minha também".

Nas voltas que a vida dá, foi nesse mesmo Colégio Santa Cruz, da Laurinha e de outros quatro netos, onde minhas filhas também estudaram, que seis décadas atrás eu tomei contato com a realidade brasileira, para além dos muros da escola.

Fico feliz por ver que este trabalho se mantém vivo nas tradições do colégio e muito triste por saber que as desigualdades sociais ainda não foram superadas, apesar dos avanços que tivemos nos últimos anos, e que agora foram interrompidos.

Para quem quer mais informações sobre esse trabalho social na Serra da Capivara: www.projetoveredas.org

Para quem quiser se divertir um pouco no domingo com boa música, a live com Gilberto Gil e outros artistas estará no Youtube e no Facebook do Projeto Veredas, a partir das 15 horas.

Para quem quiser ajudar a comunidade da Serra da Capivara: https://vakinha.com.br/vaquinha/cestas-basicas-para-a-lagoa-das-emas

Vida que segue.