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Lula ataca PSDB moribundo, que nem candidato tem: o que ele ganha com isso?
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Nas campanhas presidenciais anteriores, quando algum assessor lhe levava uma ideia de jerico sobre o que deveria falar nos discursos, Lula perguntava: "E o que nós vamos ganhar com isso?"
Faço-lhe a mesma pergunta, depois da sua declaração de que o PSDB acabou, o que não deixa de ser verdade, mas ao mesmo tempo dificulta sua aproximação com velhas lideranças tucanas, que já lhe deram o vice Geraldo Alckmin.
Quem fala muito de improviso corre esse risco, mas Lula anda exagerando ultimamente em fazer declarações inconvenientes para sua própria campanha.
O problema do ex-presidente é que ele se empolga com as próprias palavras quando está diante de uma entusiasmada plateia petista, como aconteceu na terça-feira à noite, no Tuca, em São Paulo, durante o lançamento de um livro com cartas que recebeu durante os 580 dias na prisão.
É a velha campanha do "nóis com nóis", em que Lula se sente à vontade para desabafar coisas que tem entaladas na garganta, para mobilizar a militância, ou seja, os eleitores já convertidos. Essas declarações só costumam lhe trazer prejuízos para as articulações políticas com outros partidos e não aumentam o contingente de votos que já tem.
"Vocês estão lembrados que uma vez um senador do PFL, o Jorge Bornhausen, disse que era preciso acabar com essa desgraça do PT? O PFL acabou. E agora quem acabou foi o PSDB. E o PT continua forte, crescendo e continua um partido que conseguiu compor a maior frente de esquerda já feita nesse país".
E daí? Aplausos não dão votos. Bornhausen está fora de combate, ninguém lembra quem é, e o PFL faz tempo que mudou o nome para DEM, que agora está abrigado no União Brasil, o partido do candidato Luciano Bivar, que dá traço nas pesquisas.
O que o petista ganha ao remoer esse passado e bater em antigos adversários, se hoje o seu único oponente é o presidente Jair Bolsonaro, que ameaça o país com uma pouco provável reeleição?
Numa nota mal redigida e não assinada, o PSDB soltou uma nota oficial nesta quarta-feira em resposta a Lula:
"Lula tinha que estar mais preocupado em responder à população porque a gestão do PT quase acabou com o Brasil, que foi salvo da destruição pelo impeachment de Dilma. Aliás, Dilma que ele e o PT escondem. E ele segue na hipocrisia procurando líderes tucanos".
A quatro meses da eleição, bater boca com o PSDB, que nem candidato próprio conseguiu lançar, certamente não é a melhor estratégia para quem está próximo nas pesquisas de decidir a parada já no primeiro turno.
Tenho a impressão de que Lula já esgotou o estoque de frases polêmicas infelizes na pré-campanha, que só servem para alimentar as redes sociais dos adversários. Daqui para a frente, tem que pensar três vezes antes de falar qualquer coisa. De preferência, falar menos e evitar atravessar a rua para pisar em cascas de banana nas próximas entrevistas e discursos.
Para quê voltar a falar em aborto e regulação da mídia, temas que pertencem à esfera do Congresso Nacional?
Qual o objetivo de anunciar agora que que vai mandar de volta aos quarteis os 6 mil militares aboletados no governo Bolsonaro? Toma posse primeiro e depois faz o que tem que ser feito.
Criticar a classe média que "ostenta um padrão de vida que em nenhum lugar do mundo a classe média ostenta" renderá quantos votos a mais (ou a menos)? Lula se esquece que não é mais proletário e hoje pertence, por seu próprio esforço, à classe média alta. Soa muito estranho.
Dizer que Bolsonaro "não gosta de gente, gosta de policial" só serve para reforçar o discurso do presidente em defesa dos fardados.
O que o ex-presidente ganha ao comentar quem é quem na guerra da Ucrânia, se aqui estamos enfrentando nossa própria guerra contra o povo pobre das favelas., os moradores de rua e as populações indígenas?
Em nenhuma outra campanha anterior, Lula chegou ao mês de junho com um cenário tão favorável. Para que correr riscos desnecessários agora, quando a própria democracia do país está em jogo?
Está faltando um freio de arrumação, uma alma boa para pedir calma ao candidato e juízo aos dirigentes do partido, evitar bola dividida e o salto alto, e falar apenas o necessário: planos concretos para reconstruir o país no pós-guerra, esquecer o passado e focar no futuro.
Todos já sabemos quem é Bolsonaro e o mal que fez ao país. O que o Brasil precisa novamente é de esperança e garra para vencer o medo e a inércia.
Agora falta pouco. O 2 de outubro está logo ali. Não poderemos bobear e pensar que o adversário está morto. Cada dia até lá será uma eternidade. A guerra eleitoral para valer está só começando.
Vida que segue.
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