Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Conjunto da obra faz Bolsonaro ter 53% de rejeição e só 28% de aprovação
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CARTA DE MANIFESTO EM FAVOR DA DEMOCRACIA
Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia.
Assinado: Jair Messias Bolsonaro, Presidente da República Federativa do Brasil.
(Mensagem no Twitter, às 23h37 de quinta-feira, dia 28/7/2022, três anos e meio depois de tomar posse).
***
Só quem já desistiu de ganhar no voto pode-se permitir esse deboche com algo tão sério para o nosso futuro.
Folgo em saber que o capitão também aderiu ao grande movimento da sociedade civil em defesa da democracia, que já conta com mais de 400 mil assinaturas na manhã desta sexta-feira.
Mas desconfio que esta sucinta declaração tenha chegado tarde demais, como nos mostram os números da nova rodada do Datafolha, divulgada no mesmo dia do tuíte presidencial, que foram devastadores para quem disputa a reeleição, a apenas 65 dias da abertura das urnas. .
Como, ao longo do seu governo, Bolsonaro agiu em sentido contrário, com declarações golpistas e constantes ameaças ao Estado de Direito e às instituições, a ampla maioria do eleitorado (52%, segundo a pesquisa) não confia mais em nada do que ele diz.
A essa altura, nem que ofereça gasolina de graça para todos e faça chover dinheiro de helicóptero, o atual presidente conseguirá reverter um cenário tão desfavorável, que o deixa de fora do segundo turno da eleição, a não ser que se inscreva como mesário.
O que está levando Bolsonaro para a derrota anunciada nas urnas não são seus adversários, mas o conjunto da obra do seu desgoverno que arruinou o país e o faz ser aprovado hoje por apenas 28% da população (47% o consideram "ruim ou péssimo").
Some-se a isso o fato de que 53% dos eleitores declararam na pesquisa que não votariam nele de jeito nenhum.
Me pergunto: como alguém com esses índices, na antevéspera da abertura oficial da campanha, ainda quer ser reeleito? Fosse eu, nem sairia mais de casa, com vergonha dos vizinhos.
Eleito com a bandeira lavajatista do combate à corrupção e do antipetismo, um dado meio escondido na enxurrada de gráficos e números desta pesquisa me chamou a atenção.
"Na sua opinião, existe ou não corrupção no governo do presidente Jair Bolsonaro?". Diante dessa pergunta, nada menos que 73% dos eleitores responderam que "sim".
Pela segunda vez seguida, o Datafolha indica que a eleição pode ser decidida já no primeiro turno, com 20 pontos de vantagem de Lula sobre Bolsonaro nos votos válidos: 52% a 32%. Se houver segundo turno, a diferença é a mesma: 55% a 35% a favor do petista.
Com 47% dos votos totais no primeiro turno, o ex-presidente supera Bolsonaro (29%) e a soma de todos os outros candidatos (42%). Ciro Gomes se manteve com 8% e Simone Tebet ficou com 2%, apesar do amplo espaço que ganhou na mídia com o lançamento da sua candidatura.
No voto espontâneo, Lula tem 38%, Bolsonaro, 26%, Ciro, 3% e Tebet, 1%.
Diante desta realidade fria dos números, só restará a Bolsonaro radicalizar ainda mais a campanha, para manter seu eleitorado fiel, mas correndo o risco de espantar possíveis votos mais ao centro.
E esse é o grande perigo: se perceber que não conseguirá ganhar no voto, o capitão poderá recorrer a outros meios não republicanos para se manter no poder.
A grande mobilização da sociedade civil, porém, embora tardia, poderá servir de anteparo contra tentativas golpistas, e isso explica a reação furibunda do presidente ao manifesto da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a maior organização empresarial do país, apoiado também pela Febraban, a entidade que congrega os grandes bancos. O mercado já não confia mais em Paulo Guedes, o antigo dono do Posto Ipiranga que virou frentista.
Desde a campanha das Diretas Já, em 1984, pela redemocratização do país, não se via um movimento tão unitário e vigoroso na defesa da democracia e do Estado de Direito, agora ameaçados.
Sem ter nada para oferecer aos eleitores para melhorar a vida da população num eventual novo mandato, além dos seus discursos contra os tribunais superiores, as urnas eletrônicas, os adversários e "o perigo da volta do comunismo", que nunca tivemos por aqui, Bolsonaro agora jogará tudo nas mobilizações da sua tropa no 7 de Setembro, no bicentenário da Independência, a três semanas das eleições.
Os próximos dois meses prometem fortes emoções. A cada nova pesquisa, o caminho vai se estreitando. Não poderemos mais brincar com a nossa jovem e frágil democracia. Desta vez, ninguém poderá alegar que não sabia em quem estava votando.
O dia 2 de outubro está logo ali.
Vida que segue.
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