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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

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Fustigado pela sociedade civil, capitão se refugia com pastores e militares

19.jul.20 - Passeata de grupos evangélicos em defesa do governo de Jair Bolsonaro em Brasília - Jacqueline Lisboa/Agif/Estadão Conteúdo
19.jul.20 - Passeata de grupos evangélicos em defesa do governo de Jair Bolsonaro em Brasília Imagem: Jacqueline Lisboa/Agif/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

03/08/2022 13h58

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Em guerra aberta com os tribunais superiores, a sociedade civil organizada e a elite empresarial, o capitão presidente busca cada vez mais apoio nos templos e quartéis, onde busca refúgio com pastores neopentecostais e militares bolsonaristas. Estes compromissos com celebrações religiosas e formaturas militares sempre têm prioridade em sua agenda.

Desde o lançamento dos manifestos em defesa da democracia e do Estado de Direito, que serão lançados na Faculdade de Direito da USP no próximo dia 11, Bolsonaro entrou em parafuso e opera no modo desespero sua alucinada campanha pela reeleição, mirando sua metralhadora giratória contra empresários e banqueiros, centrais sindicais, a classe artística, juristas e movimentos sociais, todas as entidades, enfim, e os quase 700 mil brasileiros (dez Maracanãs lotados) que assinaram até agora os documentos por ele chamadas de "cartinhas".

Embora seu nome não tenha sido citado em nenhum manifesto, o capitão tomou essas iniciativas como uma ofensa pessoal, e a cada dia aumenta o tom dos ataques aos ministros do STF e do TSE, dirigentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), governadores, veículos de imprensa, estudantes e professores de universidades, adversários na campanha eleitoral e partidos de oposição.

"Esse pessoal que assina esse manifesto (ele não sabe que são dois) é cara de pau, sem caráter, não vou usar outros adjetivos, porque sou uma pessoal muito educada", disparou em entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre, na terça-feira.

Imaginem se não fosse tão educado...

Hoje, em mais um ato de campanha em prédio público, prosseguindo em sua peregrinação religiosa por marchas para Jesus, cultos variados, assembleias evangélicas e inauguração de novos templos, o capitão se reuniu logo cedo com a bancada evangélica no Congresso Nacional, uma das suas principais bases de apoio na luta pela reeleição.

"Nenhum de vocês que assinaram cartinhas por aí se manifestaram naquele momento", desabafou, referindo-se às medidas de distanciamento social adotadas por governadores e prefeitos para conter a pandemia de Covid-19. "Vocês todos sentiram um pouco do que é ditadura". Como assim? Proteger-se do vírus é coisa de ditadores ou é melhor tomar cloroquina?

Ferrenho defensor do Golpe de 1964 e do Ato Institucional Nº 5, que soterrou as liberdades democráticas por longos anos, não resta dúvida de que do tema ditadura Bolsonaro entende. Pois foi exatamente para evitar que aqueles tempos sombrios voltem ao país é que a sociedade brasileira se uniu outra vez, como na campanha das Diretas Já, para dar um basta à escalada autoritária.

Aonde Bolsonaro quer chegar, ninguém sabe ao certo, provavelmente nem ele e seus generais de pijama, mas a cada dia fica mais evidente que o capitão busca o confronto com o Brasil democrático que sobreviveu ao seu governo.

Com medo de perder a eleição e pagar por seus crimes na Justiça, sem poder agitar a bandeira do combate à corrupção, como fez em 2018, por razões óbvias, depois da aliança com o Centrão, agora o capitão desfralda novamente o surrado perigo do "comunismo", o mesmo que serviu para justificar o Golpe de 1964.

Dirigindo-se aos parlamentares evangélicos como um pastor falando às suas ovelhas, ele revelou um segredo.

"Tenho o hábito de todo dia, quando me levanto, me concentro, agradeço pela missão, mas peço a Deus que meu povo não sinta as dores do comunismo. Nós somos a maioria, nós somos do bem, e tenho certeza que venceremos esta batalha".

Nem o Brasil está, como nunca esteve, ameaçado pelos "comunistas" _ aonde todos eles se escondem? _, nem o povo de Bolsonaro é a maioria, como foi circunstancialmente na eleição passada. Segundo todas as pesquisas, hoje esse rebanho está reduzido a menos de um terço do eleitorado _ e esse é o grande drama do capitão que o faz falar e fazer tantas atrocidades.

"Olha o perfil dos políticos. Só no Brasil gente do partido comunista defende democracia", disse na véspera à rádio Guaíba, entre outras sandices. Qual partido comunista? O mais antigo que temos com esse nome, o Partido Comunista Brasileiro, dos tempos do capitão Luís Carlos Prestes, teve candidato em todas as eleições após a redemocratização e nunca passou de um dígito nas pesquisas. Nunca foi uma "ameaça" real.

Tudo agora é motivo para mais uma crise na busca do confronto final, até uma simples sabatina na Fiesp com presidenciáveis. Primeiro, Bolsonaro mudou a data da sua participação para coincidir com as manifestações do 11 de agosto, que começam de manhã no Largo São Francisco e terminam à tarde, com uma concentração no Masp, bem em frente ao prédio da Fiesp, no horário em que o presidente estaria falando.

Seria o cenário perfeito para esse confronto que Bolsonaro tanto procura, mas, segundo as últimas informações de Brasília, agora o valente já está pensando em marcar outra data para ir à Fiesp. Para completar, ele se recusou a assinar o manifesto da entidade como já fizeram outros candidatos. E deu esta justificativa:

"Uma nota política eleitoral, que nasceu lamentavelmente na Fiesp. Se não tivesse o viés político nessa nota, eu assinaria. Sem problema nenhum."

Desde quando democracia é problema? Dá para acreditar? Que viés político? Quer dizer que agora defender a democracia e o Estado de Direito é tudo coisa de "comunista", incluindo aí os maiores banqueiros do país?

Bolsonaro vai precisar mesmo de muita reza para escapar das tantas arapucas em que se meteu. Ninguém boicota a sua campanha pela reeleição mais do que o próprio. Cada vez que ele abre boca seus aliados tremem na base.

Vida que segue.