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Tudo pela reeleição: Bolsonaro bate recorde negativo de horas trabalhadas

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Imagem: EPA

Colunista do UOL

15/09/2022 20h19

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Nos últimos sete dias, o presidente Jair Bolsonaro trabalhou um total de 4 horas e 5 minutos, segundo a sua agenda oficial, como revela hoje a coluna Radar da revista Veja.

Esse é seu recorde negativo de horas trabalhadas desde a posse, em 1º de janeiro de 2019, ano em que a agenda registrou 5,6 horas diárias. Em 2022, como estamos em ano eleitoral, a média caiu para 3,6 horas, antes do início oficial da campanha, em agosto, e de lá para cá vem diminuindo.

No horário de trabalho, depois do 7 de Setembro, o presidente se reuniu durante 45 minutos com o chefe da Subchefia de Assuntos Jurídicos do Palácio do Planalto que lhe encaminha documentos para assinar.

Foram 30 minutos na quinta-feira passada e outros 15 nesta segunda. No mesmo dia, recebeu por 20 minutos o ministro de Relações Exteriores, Carlos França, e passou uma hora na Embaixada do Reino Unido em Brasília para assinar o livro de condolências pela morte da Rainha Elizabeth II.

No sábado, o presidente viajou para o Rio, onde passou duas horas num evento da Marinha. Bolsonaro não teve compromissos oficiais na terça e quarta desta semana e na sexta-feira passada.

Nesse período, participou de comícios, motociatas e outros compromissos de campanha em Natal (RN), Presidente Prudente (SP) e Imperatriz (MA).

Entre 1º de janeiro de 2019 e 6 de fevereiro de 2022, quando trabalhou em média 4,8 horas por dia, em meio à pandemia de covid-19, que já matou quase 700 mil pessoas, Bolsonaro participou de apenas 5 compromissos oficiais, envolvendo explicitamente o tema vacina, o que representa 0,88% dos 5.603 registros da sua agenda oficial no período.

É o que informa o estudo "Deixa o presidente Trabalhar?", de Dalson Figueiredo, coordenador científico do Programa de Mestrado Profissional em Políticas Públicas da Universidade Federal de Pernambuco, Lucas Silva e Juliano Domingues.

Em média, o presidente trabalha 18 horas a menos do que um trabalhador regido pela CLT e 14 horas semanais a menos do que um servidor público federal da administração direta, contabilizando-se aí as horas passadas em trânsito, em viagens dentro e fora do país.

"Se aplicado o mesmo critério, o tempo gasto por Bolsonaro com motociatas pelo país, ou comendo farofa nas ruas de Brasília, ou passeando de jet-ski no Guarujá, seria considerado jornada de trabalho", comenta Ricardo Noblat em seu blog no portal Metrópoles, que publicou o estudo de Figueiredo.

Na tarde de quinta-feira, 9 de julho de 2021, mês em que o Brasil ultrapassou as 500 mil mortes por covid-19, em conversa com seus seguidores no "cercadinho do Alvorada, como lembra Noblat, ele admitiu que sua agenda andava "meio folgada". Tanto é que conversou por 50 minutos com eles.

Sempre que pode, Bolsonaro reclama do excesso de trabalho e de problemas que enfrenta no cargo de presidente, que ele chama de "missão dada por Deus", mas agora está fazendo de tudo para continuar mais 4 anos sofrendo no Palácio do Planalto, onde tem sido visto muito pouco ultimamente.

A 17 dias da eleição, ele ainda fará uma viagem ao exterior. Embarca no fim de semana para Londres, onde participará das cerimônias fúnebres da rainha Elizabeth II. De lá, voa direto com destino a Nova York para inaugurar a Assembleia Geral da ONU.

Vida que segue.