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Opinião

Só falta Congresso revogar a Lei Áurea: é hora de reagir

Em sua marcha acelerada para o retrocesso institucional, só falta agora o Congresso revogar a Lei Áurea, instituir a pena de morte e propor uma anistia geral para os golpistas.

Foi uma sessão memorável para a extrema direita, que comemorou efusivamente as vitórias na sessão conjunta de terça-feira (28) em que foram votados os vetos do presidente Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Depois de proibir as "saidinhas" dos presos, que vão provocar o caos nos presídios, e descriminalizar as fake news bolsonaristas, o próximo passo do Parlamento agora será investir numa anistia ampla, geral e irrestrita para os golpistas do 8 de Janeiro, já que a "base aliada" do governo implodiu de vez.

Agora não dá mais para o presidente Lula fingir que nada está acontecendo, que tudo vai bem e agradecer ao Congresso por aprovar tudo o que o governo manda para lá.

As sucessivas derrotas na terça, por larguíssima margem de votos (317 a 139), a começar pelo liberou geral das fake news nas eleições e o "excedente de ilicitude" para os militares por crimes contra o Estado Democrático de Direito propostas ainda no governo Bolsonaro, reclamam uma reação do governo e da sociedade.

Esta votação, que foi quase ignorada pelos analistas da mídia, serviu para mostrar o tamanho da oposição ao governo Lula 3 e a fragilidade da base considerada aliada. Na prática, pode até inutilizar todo o trabalho de quatro anos do STF nas investigações das fake news bolsonaristas e do papel de militares golpistas na armação do 8 de Janeiro. Se não é mais crime, para que investigar?

Caberá assim, mais uma vez, aos próprios ministros do STF impedir que isso aconteça, assim como a proibição das "saidinhas", por ferir a Constituição.

Fariam bem o presidente Lula, os ministros palacianos e os dirigentes petistas, se lessem e refletissem sobre a corajosa e lúcida entrevista concedida à Folha de S.Paulo pelo seu líder na Câmara, José Guimarães (PT-CE), defendendo mudanças urgentes e profundas, tanto no ministério como no partido, para restabelecer um mínimo de ordem na articulação política com o Congresso e a sociedade.

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Do jeito que a banda toca, outras derrotas virão no Congresso, com consequente queda nas pesquisas, estimulando a traição dos chamados aliados, que aumentam o preço a cada votação e avançam com sofreguidão sobre os cofres do governo, colocando em risco o equilíbrio fiscal — agora agravado com a tragédia sem fim do dilúvio no Rio Grande do Sul.

São bilhões e bilhões destinados todos os dias a socorrer os flagelados gaúchos e a economia local, que levarão anos para se recuperar. De onde sairá tanto dinheiro? Não adianta investir pesado na propaganda da ajuda federal, em todos os intervalos comerciais na TV, se as pessoas não sentem melhoras em seu dia a dia e fatos negativos dominam todo o noticiário.

Por mais que o presidente queira vender otimismo, a dura realidade se impõe e reclama mudanças, mas sei que não será fácil, com um Congresso que joga contra, um partido dividido em intrigas internas, a má vontade da grande mídia e o mercado sempre nervoso.

O importante é sinalizar que o presidente reconhece suas dificuldades e está disposto a mudar a equipe e o rumo do governo. Nós já nos habituamos a viver de esperança. Por isso, talvez seja o caso de o presidente fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, para anunciar medidas concretas que já foram ou serão tomadas para o enfrentamento da crise, falando francamente sobre as dificuldades encontradas para governar com minoria no Congresso Nacional.

Ainda não estamos nem na metade do terceiro mandato e parece que o governo envelheceu, não consegue mais reagir diante de um ambiente cada vez mais hostil. Novas caras e novas ideias podem mudar este cenário. Ainda é tempo.

Vida que segue.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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