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OPINIÃO

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Mourão se lança para ocupar vazio deixado por Bolsonaro na extrema-direita

O vice que se deu bem: primeiro salário de Mourão como senador, em 2023, será o dobro do que ganha atualmente o presidente Jair Bolsonaro - Reuters
O vice que se deu bem: primeiro salário de Mourão como senador, em 2023, será o dobro do que ganha atualmente o presidente Jair Bolsonaro Imagem: Reuters

Colunista do UOL

26/11/2022 14h13

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Não esperaram nem terminar o velório para aparecer o primeiro candidato a ocupar o lugar do futuro ex-presidente Jair Bolsonaro na liderança da extrema direita brasileira.

Com um discurso cada vez mais radical a favor dos golpistas, que se sentem abandonados, tomando chuva nos bloqueios das estradas e nas rezas em frente aos quarteis, para pedir intervenção militar, ao mesmo tempo em que ataca a Justiça Eleitoral e a "esquerda revolucionária", o general Hamilton Mourão perfilou-se nos últimos dias como herdeiro do bolsonarismo.

Recém-eleito senador pelo Rio Grande do Sul, onde vai ganhar mais do que o presidente da República, Mourão já fez até uma viagem ao exterior esta semana para se apresentar ao mundo. No apagar das luzes do governo, foi recebido com toda pompa em viagem oficial a Portugal, onde seu antigo líder não colocou os pés durante todo seu mandato, e o presidente eleito Lula esteve há 15 dias. As autoridades portuguesas não devem ter entendido nada.

General Mourão aproveitou o vazio deixado pelo capitão Bolsonaro no noticiário, após se recolher durante mais de três semanas ao exílio no Palácio da Alvorada, conspirando em obsequioso silêncio contra o novo governo e promovendo arruaças com a mão do gato dos seus devotos mais fanatizados, que estão pedindo ajuda até a extraterrestres para impedir a posse do Lula e a "volta do comunismo", que nunca vicejou por aqui.

Curioso notar que justamente ele que, no início do governo, fazia o contraponto moderado aos arroubos toscos e autoritários do presidente, tentando traduzir "o que ele quis dizer", e conversando alegremente todo dia com jornalistas e outros personagens do mundo político de Brasília, que o presidente tratava a pontapés, ressurge agora como o franco-atirador do lado mais sombrio do bolsonarismo raiz.

Ainda como vice, ele se insurgiu contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, o inimigo numero um de Bolsonaro, por ter-se reunido na quinta-feira com comandantes das Policias Militares estaduais.

"Some-se a este estado de coisas a foto do presidente do TSE ladeado por alguns comandantes das PMs, materializando o ápice do autoritarismo e ferindo de morte o pacto federativo", escreveu nas suas redes sociais. Nem Bolsonaro chegou a tanto.

Empolgado com as próprias palavras, Mourão subiu o tom, ao dizer que "é chegada a hora de a direita se organizar para combater a esquerda revolucionária". Isto, na verdade, já está acontecendo nos atos antidemocráticos cada vez mais violentos, mas faltava um líder para o movimento.

Agora não falta mais. Quem poderia ser esse comandante da reação conservadora? Ele mesmo, claro, com a experiência de quem conspirou contra o governo de Dilma Rousseff, até ser por ela afastado de um cargo de comando.

O discurso já está pronto:

"Necessário é reagir com firmeza, prudência e conhecimento; dentro dos ditames democráticos e constitucionais, para restabelecer o Estado democrático de Direito no Brasil". Inverter o sentido das palavras ele aprendeu durante o convívio no Planalto.

Outro fato que colocou Mourão na vitrine esta semana foi a multa de R$ 23 milhões aplicada pelo TSE ao PL, partido do presidente, por ter agido de má-fé para contestar as urnas eletrônicas e invalidar os votos de 279 mil urnas no segundo turno.

Até as emas do Alvorada sabem que quem incentivou esta irresponsabilidade foi o próprio Bolsonaro, ainda inconformado com a derrota nas urnas, que cobrava todo dia Valdemar Costa Neto para entrar com uma ação na Justiça baseada numa auditoria fajuta.

"Supressão discricionária do direito de recorrer e sanções desproporcionais configuram vingança, tudo o que o país não precisa neste momento", reagiu o vice-presidente

Diante do estrago na imagem e nos cofres do partido governista, ao contrário do general, o capitão não disse uma palavra até agora sobre a lambança, como se não tivesse nada a ver com isso. Mas, no dia seguinte à decisão de Moraes, convocou para uma reunião de emergência os comandantes militares no Alvorada para discutir que providências poderia tomar. Pelo jeito, nenhuma. Era só para assustar a plateia.

Engana-se, porem, o quase ex-presidente se achar que o general Mourão agora está, finalmente, ao seu lado, depois de se estranharem durante todo o governo.

Mourão agora está livre e solto de compromissos com o governo, correndo em raia própria.

Como Michel Temer, cansou-se de ser vice decorativo. Movimenta-se para assumir a liderança na extrema-direita, que se sentiu órfã com o recolhimento voluntário do "Mito".

Vida que segue.