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Em conversa com a coluna, Doria enaltece papel de Montoro nas Diretas já
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Faz 40 anos. Costumo dizer que tudo faz muito tempo na minha vida. Ficam só as lembranças da memória afetiva e as minhas anotações, ao falar dos acontecimentos que presenciei de perto, ao longo da minha carreira, que completa 60 anos em 2024.
É o caso das Diretas Já, o maior movimento cívico da nossa História contemporânea, que foi um divisor de águas entre a ditadura e a democracia, sobre o qual já escrevi um livro - "Explode um Novo Brasil" (Editora Brasiliense, 1984) - e volta e meia volto ao assunto.
No domingo, tinha acabado de ler a exaustiva pesquisa de Oscar Pilagallo sobre os 40 anos do início do movimento, publicada em quatro páginas da Ilustríssima, quando recebi um WhatsApp que o ex-governador João Doria enviou aos amigos, também lembrando a data.
Na mensagem, ele dava uma outra versão, atribuindo a si mesmo e ao governador paulista Franco Montoro um papel decisivo na organização dos comícios por todo o país. Achei um exagero da parte dele. .
Para fazer justiça aos personagens e fatos históricos, escrevi na minha coluna que o grande mentor e articulador político foi o deputado Ulysses Guimarães, o "Senhor Diretas", e não me lembrava de ter visto Doria nas reuniões preparatórias dos comícios. Ainda não o conhecia.
Hoje, o ex-governador me ligou para contar como foi a sua participação na campanha, atendendo a pedido do governador Montoro. "No dia 3 ou 4 de janeiro de 1984, o Montoro me chamou no Palácio dos Bandeirantes, junto com Mauro Montoryn e Jorge da Cunha Lima, para organizar o comício do dia 25, no aniversário da cidade de São Paulo"
Doria era presidente da Paulistur, a empresa de turismo do município, e tinha trabalhado com os outros dois na campanha de Montoro a governador, em 1982. "A pedido do governador, participei da organização de todos os outros comícios até o último, no Vale do Anhangabaú. Eu que convidei a Christiane Torloni e a Fafá de Belém para participarem dos comícios".
Na lembrança dele, por temer um movimento militar contra a manifestação das Diretas Já, Montoro pediu ao cardeal arcebispo de São Paulo. D. Paulo Evaristo Arns, licença para montar o palanque na escadaria da Catedral da Sé, palco do primeiro grande comício do movimento.
Ulysses, Montoro, Brizola e Tancredo, quatro dos principais líderes do movimento, já morreram. Só restaram Fernando Henrique Cardoso e Lula para contar a história - por coincidência, os dois que chegaram à Presidência da República pelo voto direto, o principal objetivo das Diretas Já, no ocaso da ditadura militar.
Depois de ter sido eleito prefeito e governador de São Paulo e desistir da candidatura presidencial, Doria voltou à iniciativa privada e não dá sinais de sentir falta da política.
Fica o registro.
Vida que segue.
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