Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Querem um "Lulinha, paz e amor" para enfrentar as milícias bolsonaristas?

Presidente Lula com o vice Geraldo Alckmin: pessoas normais de volta ao Palácio do Planalto - Ricardo Stuckert/PR
Presidente Lula com o vice Geraldo Alckmin: pessoas normais de volta ao Palácio do Planalto Imagem: Ricardo Stuckert/PR

Colunista do UOL

02/04/2023 12h24

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Nem esperaram Lula completar os primeiros 100 dias de governo para cobrar do presidente a promessa de campanha de reunificar e pacificar o país. Pelo meu calendário, esse habitual período de trégua inventado pela imprensa só terminaria na terça-feira da semana que vem.

A capa da Veja, que circulou ontem, não conseguiu esperar. Mas já resumiu o humor do comportamento padrão da mídia nas últimas semanas, e do que ainda vem por aí, para enquadrar o governo na cartilha do Banco Central, ou seja, do mercado de Paulo Guedes derrotado nas urnas de outubro.

"Até aqui, nem paz nem amor", grita o título, como se fosse possível reconstruir a unidade nacional de um país do tamanho do Brasil, dilacerado por quatro anos de destruição feroz de todos os seus alicerces, que culminou com o "putsch" fracassado sobre Brasília no dia 8 de janeiro, o domingo trágico em que o novo governo mal completava uma semana de volta ao Palácio do Planalto.

Esse pequeno detalhe, que assombrou os primeiros dias e retardou as primeiras medidas anunciadas pelo governo, nem foi citado na maioria das mil análises já publicadas sobre o que o governo fez ou deixou de fazer.

A Carta do Editor da Veja cobrou também um plano econômico, cujo "arcabouço" acabou de ser anunciado esta semana, e foi considerado "factível", quem diria, até pelo general Mourão, hoje um senador da tropa de choque da oposição bolsonarista.

Lula até demorou para reagir aos ataques desferidos desde a posse por patriotas do antigo governo e viúvas do lavajatismo, mas quando o fez forçou a mão na dose, com uma denúncia vazia de provas, e acabou trazendo de volta para as manchetes até o ex-juiz Sergio Moro, que estava esquecido no Senado. Assim como seu ex-chefe, o senador do Paraná logo ligou o PT ao PCC, a organização criminosa acusada de planejar ações violentas contra várias autoridades, inclusive ele, desmanteladas pela Polícia Federal.

Como presidente, Lula cometeu um grave erro político, e ele sabe disso. Mas, pedir "paz e amor" para o cidadão Lula numa hora dessas, chega a ser desumano, depois de tudo que fizeram, e continuam fazendo, contra ele e seu partido. Curiosamente, ninguém cobrou "paz e amor" dos adversários de Lula. Esqueceram-se apenas de combinar com os "russos" _ com trocadilho, pois este era o apelido do chefão na Lava Jato.

As milícias bolsonaristas continuam todas leves e soltas por aí, atirando para todo lado nas redes antissociais, açuladas pelo seu líder, agora de volta ao país, depois de três meses de autoexílio nos Estados Unidos, como se nada tivesse acontecido.

Voltou pela porta dos fundos, sem poder desfilar em carro aberto como queria, e reclamando da falta de uma viatura blindada para transportá-lo, como se ainda fosse presidente. Seu único plano, por enquanto, já que não quer liderar a oposição, é promover novas motociatas.

Enquanto isso, em apenas 90 dias, Lula já reconstruiu as políticas públicas detonadas pelo bolsonarismo, a começar pelo Bolsa Família; montou uma força tarefa para salvar da extinção o povo yanomami, levando médicos, comida e remédios às aldeias; relançou o Minha Casa, Minha Vida para beneficiar a faixa de renda mais baixa da população; tirou o Brasil da condição de país pária e o colocou novamente como protagonista nos grandes fóruns mundiais; investiu recursos na cultura, no meio ambiente, no combate à fome e ao desemprego; reforçou os órgãos de controle e fiscalização na luta contra os garimpos clandestinos na Amazônia, o trabalho escravo e na defesa dos direitos humanos, que deixaram de ser um palavrão neste governo.

Falta muito ainda para voltarmos a ter uma vida razoavelmente normal, eu sei, mas já está dando para respirar um ar mais limpo, voltar a ter esperanças, sonhar com dias melhores e fazer planos para o futuro, sem medo do amanhã.

O mais importante de tudo é que nós voltamos a ter um governo, um presidente e uma bússola. Temos um plano de voo. O resto vem com o tempo.

Muita calma nesta hora, como diz a moçada.

Vida que segue.