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Convicto da impunidade, ex-juiz Sergio Moro desmoraliza sistema de Justiça

Tacla Duran fez graves acusações contra Sergio Moro, na época em que o hoje senador era juiz da Lava Jato - Reprodução
Tacla Duran fez graves acusações contra Sergio Moro, na época em que o hoje senador era juiz da Lava Jato Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

14/04/2023 12h02

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A cada dia que passa, aparecem novos tentáculos do ex-juiz Sergio Moro no sistema de Justiça, que até aqui garantiram a sua impunidade, apesar das denúncias que se avolumam contra ele, desde que o Supremo Tribunal Federal o declarou incompetente e suspeito para julgar os processos do presidente Lula na 13ª Vara Federal do Paraná, onde ganhou fama como poderoso chefão da Operação Lava Jato e depois se elegeu senador pelo União Brasil.

Hoje, o colunista Lauro Jardim, do Globo, acrescentou mais um dado sobre esta rede de proteção tecida ao longo da carreira de Moro na magistratura, em que o ponto alto foi prender Lula durante a campanha de 2018, antes de se tornar ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, que venceu a eleição.

"Autor de uma ordem de prisão contra o advogado Rodrigo Tacla Duran, o desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4, tem conexão dupla com Sergio Moro por meio do filho, o advogado João Eduardo Malucelli. O jovem de 28 anos é sócio do escritório de advocacia do senador e, além disso, é namorado de Júlia Wolff Moro, de 22 anos, filha mais velha do ex-juiz", relatou Jardim. Assim, fica tudo em família.

Por uma dessas estranhas coincidências na vida de Moro, Marcelo Malucelli foi recentemente nomeado desembargador do TRF-4, o tribunal federal que chancelava as sentenças do ex-juiz na Lava Jato, E o processo de Tacla Duran logo caiu nas suas mãos, que beleza... Deve ter sido muita sorte.

Em sua defesa, Moro soltou uma nota garantindo que está afastado, desdee fevereiro, do escritório montado com o filho de Malucelli, mas admite que continua no quadro social como associado.

No mês passado, em depoimento por videoconferência ao juiz Eduardo Appio, sucessor de Moro na Lava Jato, Tacla Duran denunciou que foi alvo de tentativas de extorsão por pessoas ligadas ao senador, na época em que era advogado de empreiteiras na Operação Lava Jato.

A denúncia virou notícia-crime contra Moro, o deputado federal e ex-procurador da República Deltan Dallagnol, o advogado Carlos Zucolotto Júnior, ex-sócio de Rosângela num escritório, e um assessor do senador, Fábio Aguayo.

O caso tramita no STF, por decisão do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou esta semana, mas mesmo assim Malucelli, muito prestativo, mandou prendê-lo. Antes, Moro tentara levar o processo para a primeira instância, alegando que os fatos relatados são anteriores à sua posse, abrindo mão do foro privilegiado. No STF, ele sabe, depois de sofrer seguidas derrotas, os ministros não são lá mujto fãs do seu trabalho como juiz.

Desde o início deste imbroglio, Tacla Duran vive em Madri e permanece solto, enquanto o STF, por decisão do ministro Ricardo Lewandowski, analisava o impasse envolvendo o advogado e Moro. Nesse meio tempo, Moro já havia pedido a prisão de Duran à Interpol, que se recusou a fazê-lo por falhas no processo.

Experiente no ramo de denúncias e sentenças dadas por convicção, Sergio Moro estava convicto de continuar impune até a reabertura do caso pelo juiz Eduardo Appio. E a sua situação ainda pode piorar. O colunista Chico Alves, aqui no UOL, informa que Tacla Duran deve retornar ao Brasil na próxima semana para depor presencialmente ao juiz Appio, quando poderá fazer novas denúncias, além daquelas feitas em março. Para isso, o advogado só espera que o STF revogue o novo mandado de prisão expedido por Marcelo Malucelli, o pai do seu sócio e namorado da sua filha.

Até quando o ex-juiz continuará desmoralizando o Judiciário brasileiro, assim como o ex-capitão Jair Bolsonaro desmoralizou as Forças Armadas? Os dois, afinal, como disse certa vez a deputada Rosângela Moro, "são um só", indissociáveis.

Vida que segue.