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OPINIÃO

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Bolsonaro se faz de morto para transformar em vítimas réus do 8 de janeiro

Colunista do UOL

20/04/2023 11h45

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"Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é!" (Autor desconhecido)

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Finjindo-se de morto desde que voltou ao Brasil, após uma vilegiatura de três meses sem fazer nada nos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro dedicou-se a preparar um novo golpe contra a democracia, investindo na criação de uma CPMI sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, para impedir o novo governo de governar.

Nas declarações de seus aliados, o objetivo sempre foi claro: atribuir à incompetência e omissão do governo Lula o ataque coordenado às sedes do poder em Brasília e livrar a cara dos seus seguidores, que foram presos e estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal.

Não por acaso, a ofensiva da oposição para instalar a CPMI se deu no mesmo dia em que os primeiros 100 terroristas foram declarados réus pela Justiça e a CNN exibiu vídeos inéditos da invasão ao Palácio do Planalto, em que o general Gonçalves Dias, ministro-chefe do GSI, que pediu demissão ontem, aparece perdido, andando de um lado para outro no terceiro andar, sem reagir, enquanto os vândalos destruíam o terceiro andar, onde fica o gabinete do presidente Lula.

O que pode parecer uma rematada loucura aos olhos de uma pessoa normal _ o novo governo cometer atentados contra ele mesmo para colocar a culpa na oposição _ para os bolsonaristas é apenas uma velha estratégia militar, como está na epígrafe desta coluna.

No picadeiro da conspiração em que certamente será transformado o Congresso Nacional, em meio à grande esbórnia preparada pela sua tropa de choque, o ex-capitão imagina que ele mesmo poderá escapar das penas da lei que o aguardam, usando a mão do gato, como costuma fazer, e se transformar também em vítima.

Pouco importam os milhares de outros vídeos produzidos pelos próprios vândalos uniformizados, que mostram a selvageria dos ataques bolsonaristas aos palácios de Brasília, e os depoimentos de centenas de testemunhas. A partir de agora, só interessa repetir à exaustão o vídeo da CNN, emissora que vem se transformando na nova Jovem Pan, com um elenco que já passou pela concorrente.

Não por acaso, também, o vídeo da invasão ao Planalto que o general Gonçalves Dias não conseguiu mostrar ao presidente Lula, apesar de insistentes pedidos, porque ficou vendido nas mãos dos agentes do GSI do general Augusto Heleno, que não teve tempo de trocar na primeira semana de governo, foi parar nas mãos do único repórter que acompanhou ao vivo o trajeto de Orlando (EUA) a Brasília, na viagem de volta de Bolsonaro ao Brasil.

O ex-presidente repete agora a mesma tática que usou após ser anunciada sua derrota na eleição de outubro, quando se enfurnou no Palácio das Alvorada por três meses, alegando que estava deprimido, enquanto seus seguidores fechavam estradas e ocupavam a entrada de quarteis pelo Brasil afora, preparando o que viria a ser o fracassado "putsch" sobre Brasília em janeiro. Terceirizar tarefas e responsabilidades é com ele mesmo, como bem sabe seu ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que continua preso.

Aconteça o que acontecer daqui para a frente, o prejuízo para o governo Lula já está precificado, como os bolsonaristas queriam. Em vez de debates sobre planos de governo, novo arcabouço fiscal, reforma tributária, tudo o que precisa ser feito para o país voltar a funcionar, agora se dará lugar às refregas da CPMI.

Por um bom tempo, o país só vai falar disso. Pobre Brasil, que não consegue voltar a ter uma vida normal, com os abutres do passado sobrevoando Brasília novamente.

Vida que segue.