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OPINIÃO

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Arthur Lira Maia, o 'independente', comanda o picadeiro para a CPI do Golpe

Deputado Eder Mauro e senadora Eliziane Gama bateram boca durante sessão da CPI do 8 de Janeiro - Reprodução/TV Senado
Deputado Eder Mauro e senadora Eliziane Gama bateram boca durante sessão da CPI do 8 de Janeiro Imagem: Reprodução/TV Senado

Colunista do UOL

21/06/2023 11h40

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Escolhido a dedo pelo todo-poderoso xará Arthur Lira para presidir a CPI do Golpe, Arthur Maia (União Brasil/BA) se declara "independente", embora seu partido faça parte da base governista e vote na maioria das vezes com a oposição bolsonarista. Costumo confundir os dois, tão parecidos eles são na pose e no discurso.

Nos primeiros movimentos da CPI, durante o depoimento do ficcionista Silvinei Vasquez, ex-chefão da Polícia Rodoviária Federal, Maia já disse a que veio. Em seu quinto mandato de deputado federal, o presidente da CPI já passou por quase todos os partidos de direita e até pelo ex-comunista PPS, antes de chegar ao DEM, que se fundiu com o PSL de Luciano Bivar para fundar o União Brasil.

Um jornalista estrangeiro deve ter dificuldades para entender essa salada de siglas. A confusão já começa com os nomes dos partidos. União Brasil é o mais desunido dos partidos da base do governo, onde tem três ministérios. O Partido Progressista (PP) de Arthur Lira, ultima sigla de Paulo Maluf, é o mais conservador. O Partido Novo é o que tem de mais velho na cena política, e por aí vai.

Maia deixou rolar a baixaria promovida pelo deputado Éder Mauro (PL-PA), que nem faz parte da comissão, mas não estava lá por acaso. Tinha a missão de impedir aos gritos que a relatora Eliziane Gama (PDS/MA) interrogasse o policial bolsonarista, que responde a vários inquéritos por sua atuação partidária no período eleitoral.

Ex-delegado linha dura da Polícia Civil do Pará, Mauro estava tão transtornado no seu papel que quase viu sua peruca voar pelos ares e obrigou Maia a suspender a sessão por 15 minutos para que ele se acalmasse. O plenário da reunião tinha virado um picadeiro, apesar de Maia acionar longamente a campainha, pedindo silêncio.

Assim como faz Lira, o presidente da CPI também se vale de terceiros para alcançar seus objetivos não confessáveis, entre eles, o de facilitar o trabalho da oposição e de encurralar o governo para aumentar seus poderes.

Sempre desconfiei desses políticos profissionais como Maia, que dizem não ser de direita nem de esquerda, nem do governo nem da oposição, muito pelo contrário.

Esse não é o caso de Éder Mauro, de quem nunca tinha ouvido falar, um extrema direita assumido do bolsonarismo raiz, que admite já ter "matado muita gente", mas faz uma ressalva: "Todos eram bandidos". Por isso, ele é alvo de 101 denúncias em ouvidoria por sua atuação como policial.

Mauro já disse, num discurso que fez durante a campanha eleitoral, depois de orar e cantar o Hino Nacional, que se por acaso a esquerda voltasse ao poder, o incesto será legalizado, "para que o pai possa casar com a filha".

Com aliados como esse, o aprendiz de Arthur Lira quer ser o contraponto à relatora Eliziane Gama, claramente governista, alegando que procura dar "equilíbrio" à comissão, como se estivessem em jogo duas narrativas, o sinônimo da moda para fake news, de igual valor.

A oposição tudo fez para instalar essa CPI, que não quer investigar nada, mas apenas tumultuar o ambiente político, para provar que o 8 de Janeiro só aconteceu porque o novo governo foi leniente e incompetente para proteger os palácios atacados pelos terroristas ensandecidos, facilitando a invasão de Brasília.

Como bem explicou a comentarista Eliane Cantanhêde, na GloboNews, trata-se de uma falácia querer atribuir a mesma responsabilidade aos invasores e aos invadidos, a exemplo do que ocorre na guerra entre Rússia e Ucrânia, mas foi o que restou aos bolsonaristas: jogar pelo empate.

Sem poder provar que havia "agentes do governo infiltrados" no putsch golpista, a oposição se vale de figuras como o delegado Éder Mauro apenas para fazer barulho e transformar a CPI num circo que ocupa grande espaço no noticiário e dificulta a tramitação dos projetos e reformas do governo.

O que vimos na terça-feira foi apenas um aperitivo do que a tropa de choque bolsonarista ainda pretende aprontar daqui para a frente, mostrando que a bancada governista precisa se preparar muito melhor para os próximos embates porque o jogo será pesado.

Com o habitual cinismo da sua grei, achando que todos são idiotas, Silvinei Vasquez contou lorotas à vontade, fazendo-se de pobre aposentado desempregado e negando todas as evidências sobre a sua atuação na preparação do golpe. Arthur Maia e Arthur Lira devem ter ficado satisfeitos com a sua atuação. E o que o país ganha com isso?

Vida que segue.

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