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OPINIÃO

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Torcidas fazem festa nos estádios e a oposição de direita só pensa em 2026

Tiquinho Soares, atacante do Botafogo e artilheiro do Brasileirão, celebra vitória no estádio Nilton Santos - Vitor Silva / Botafogo
Tiquinho Soares, atacante do Botafogo e artilheiro do Brasileirão, celebra vitória no estádio Nilton Santos Imagem: Vitor Silva / Botafogo

Colunista do UOL

10/07/2023 10h54

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Dois fatos de naturezas bem distintas ocuparam o noticiário e os comentários neste final de semana: ao mesmo tempo em que até o futebol voltou a ser uma festa como era antes, batendo sucessivos recordes de público, com mais de 3 milhões de ingressos vendidos, a política vai perdendo espaço para outros assuntos da vida real nas conversas nos botecos e nos almoços de família. O Fla-Flu voltou a ser disputado só dentro do campo.

Em lugar da polarização partidária que marcou os últimos 4 anos trágicos na vida brasileira, e com o Botafogo disparado na liderança do Brasileirão, sem dar margem a grandes discussões, o respeitável publico volta suas atenções para o desempenho do próprio time ou para o melhor filme em cartaz, qual o melhor destino para quem ainda tem férias a tirar, ou o novo restaurante que acaba de abrir no bairro.

Com a vida retornando ao normal, as multinacionais voltando a se interessar pelo Brasil, como mostra pesquisa da Folha publicada nesta segunda-feira, e 80% dos executivos ouvidos estão otimistas com os rumos da economia, tem muita gente consultando o Google para saber quem é, afinal, esse Tiquinho Soares, um paraibano de 32 anos, artilheiro do Botafogo e do campeonato de quem tanto falam.

Mais em final do que em início de carreira, o novo ídolo saiu do Brasil muito cedo, rodou sem fazer muito barulho por times da Europa e virou o símbolo deste Botafogo renascido, um time solidário, de muita garra, para quem não tem jogo perdido. Eles correm os 90 minutos ou mais como flagelados da seca ou das chuvas em busca de um prato de comida. Era um time sem estrelas, agora tem várias.

É neste cenário favorável ao Botafogo e ao governo, depois de um início tumultuado pelo 8 de Janeiro e embates sem fim no Congresso, agora temporariamente apaziguado pela liberação de emendas, que a oposição de direita parece já ter jogado a toalha, para focar desde já na eleição presidencial de 2026.

Para alguns veículos e colunistas da grande mídia é como se a campanha já tivesse começado, com vários nomes lançados para suceder o ex-presidente nos vários campos em que hoje se divide a direita, entre os trogloditas-raiz e os ditos civilizados, como prefere o Estadão, porta-voz de qualquer candidato competitivo capaz de enfrentar o PT de Lula ou quem for o candidato da esquerda em 2026.

Daqui a pouco vão sair as primeiras pesquisas para turbinar o noticiário, mas pressinto que o grande público não está muito interessado nisso por enquanto, mais ocupado em saber quem ainda pode tirar o Botafogo da frente ou em evitar a queda do seu time para a Série B do Brasileirão.

Nós, que já fomos o país do carnaval e do futebol, podemos voltar a sonhar e recuperar pequenos prazeres e alegrias. Já cumprimos a nossa parte, ao salvar a democracia dos perigos que a ameaçava até outro dia, e agora temos direito a não confundir mais cara feia com seriedade, dando boas risadas sem complexo de culpa. Há quanto tempo a gente não ouvia uma boa gargalhada por uma bobagem qualquer? Só precisamos continuar atentos.

A vida não pode ser só política e economia. Esses são meios para se conquistar uma vida melhor, não fins para em si mesmos, para saber quem está certo ou errado. Não sei quem disse, mas eu concordo: não quero ter razão, só quero ser feliz.

Aos poucos, os nomes daquela melancólica família das Vivendas da Barra estão sumindo do noticiário, e espero que continue assim, para que a gente possa novamente respirar sem ter que pedir licença. O Brasil mudou de agenda, as pautas agora são outras, não só nos nas empresas, nos parlamentos e nos centros do poder, mas também nos estádios, nas praias e nos botecos lotados, onde a vida voltou a reinar, porque ninguém é de ferro.

Milagre? Não, apenas uma troca de comando, de prioridades e de atitude, porque o pais e o povo ainda são os mesmos, assim como nossos problemas estruturais, que geram essa imensa e vergonhosa desigualdade social. A reconstrução nacional sobre a terra arrasada levará algum tempo para fazer efeito no cotidiano das pessoas, mas há um novo horizonte à nossa vista e já dá para sentir os primeiros sinais.

Vida que segue, viva a vida.