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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Troca de comando na FAB é marcada por tentativa de despolitização e recado

Tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, escolhido por Lula para comandar a FAB, assumiu o cargo nesta segunda-feira - Divulgação/Alesp
Tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, escolhido por Lula para comandar a FAB, assumiu o cargo nesta segunda-feira Imagem: Divulgação/Alesp

Do UOL, em Brasília

02/01/2023 15h49

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A cerimônia da troca da comando da FAB (Força Aérea Brasileira), que aconteceu nesta segunda-feira (2) na base aérea de Brasília, foi marcada pela tentativa dos militares de iniciar a "retirada da política dos quartéis".

Militares admitiram que as Forças Armadas passaram a ser alvo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro por não terem embarcado em uma tentativa de golpe e que agora é o momento de focar nos projetos internos de cada Força.

Muitos concordaram com a declaração do agora ex-vice-presidente Hamilton Mourão de que as Forças Armadas estão "pagando a conta" por atitudes do governo passado de tentar envolver os militares em um "pretenso golpe".

A declaração, inclusive, estaria sendo mais um impulso para ataques de bolsonaristas contra as Forças Armadas. A avaliação de membros do alto estalão da FAB é que o momento é de "deixar isso passar".

Sem Lula no discurso

O novo ministro da Defesa, José Mucio, fez um discurso repleto de elogios ao agora ex-comandante brigadeiro Baptista Júnior e ao novo comandante brigadeiro Marcelo Damasceno. Mucio não citou em nenhum momento o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O novo comandante também não falou do presidente.

Apenas Baptista Júnior, que ficou marcado por sua proximidade com Bolsonaro, fez um breve agradecimento pela escolha do então presidente para que ele assumisse o comando.

Baptista fez um discurso bastante emocionado. Lembrou que cresceu no universo militar, destacou algumas similaridades com o sucessor e citou que ambos são filhos de ex-integrantes da FAB.

Uma coincidência histórica foi lembrada pelo cerimonial, Baptista Junior é filho do Tenente-Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, que também foi Comandante da Aeronáutica no período de 1999 a 2003. Ou seja, o pai deixou o comando da FAB no mesmo dia 2 de janeiro há exatos 20 anos.

Nos elogios feitos ao comandante indicado por Bolsonaro, Múcio afirmou ter a certeza de que "o futuro e a história lhe serão justos e generosos".

A respeito de Damasceno, o ministro da Defesa afirmou que a FAB passa a ser liderada por mais um "homem público de notáveis valores, liderança e capacidade de trabalho, que honrará a disciplina e hierarquia".

Novo comandante cita "incompreensão"

Em sua fala, o novo comandante da FAB disse estar convicto que as Forças Armadas "continuarão a usufruir da atenção aos projetos estratégicos, por parte da Presidência da República e do Ministério da Defesa", mas não citou nominalmente nem Lula e nem Múcio.

Damasceno afirmou ainda que tem muitos desafios e citou a necessidade de os militares melhorarem a comunicação com a sociedade.
"Sei que teremos um porvir cheio de desafios, mas unidos comentaremos a vitória. Que a comunicação com a sociedade divulgando feitos operacionais continuem sendo conduzidas pelo nosso órgão central em perfeita coordenação com os meios de imprensa de todo nosso país".

No fim de sua fala, o comandante da FAB afirmou que "não fugiria à luta, nem me furtaria à nobre missão" e finalizou citando a "incompreensão, principalmente de alguns mais próximos, revertam-se em futuro entendimento".

A afirmação, dizem os militares, não teria conotação política. A frase, porém, pode ser vista como uma espécie de "recado" tanto aos militares da ativa que eram mais ligados ao ex-presidente Bolsonaro quanto aos bolsonaristas que ficaram acampados nas frentes dos quartéis e que agora tem atacado às Forças.