Carla Araújo

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Reportagem

Isolado, Braga Netto tem quarto com cadeado e come quatro refeições por dia

Preso desde sábado (14), o ex-ministro e general da reserva Braga Netto não recebeu a visita do seu advogado nesta segunda-feira (16). O Comando Militar do Leste (CML) informou, em nota, que "o general se encontra isolado, com direito a banho de sol. Está em um alojamento destinado a oficiais do Estado-Maior com banheiro reservado, conforme preconiza o Estatuto dos Militares".

Braga Netto recebe de três a quatro refeições por dia. A comida é a mesma oferecida no chamado "rancho", que é o refeitório. "São as mesmas previstas no cardápio diário dos militares da 1ª DE", diz o CML. Por conta da detenção, porém, Braga Netto é obrigado a se alimentar no quarto, isolado.

Inicialmente, Braga Netto deveria ficar detido no Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste. Porém, acabou sendo levado para o Comando da 1ª Divisão de Exército, também no Rio de Janeiro, na zona oeste da cidade.

O general está em um quarto adaptado para ser uma cela, mas sem grades na janela. Há apenas uma tela e cadeados para garantir a segurança do local. Há também uma televisão, um banheiro privativo e um aparelho de ar-condicionado.

Fontes da caserna rechaçam que o uso do ar-condicionado seria uma 'mordomia' ou 'luxo' para o general. Argumentam que a temperatura no Rio de Janeiro é muito alta, que o ambiente é confinado e as janelas ficam fechadas o tempo todo. Além disso, dizem que o general "é um senhor de 67 anos e que na tutela sobre o preso o estado, que no caso é o Exército, tem que zelar por sua integridade".

As visitas, por enquanto, dizem os militares, estão restritas ao advogado do general. Procurado pela coluna, o advogado Luís Henrique César Prata, disse que ainda não esteve com o cliente no local que ele está detido.

Em nota divulgada nesta segunda, o CML afirmou que "respeita as condições impostas pelas autoridades competentes e cumpre, fielmente, as decisões judiciais, ressaltando que está proibido o contato do custodiado com os demais investigados, inclusive por intermédio de terceiras pessoas".

Em nota divulgada no sábado, a defesa do general afirmou que "se manifestará nos autos após ter plena ciência dos fatos que ensejaram a decisão proferida" e que terão "a oportunidade de comprovar que não houve qualquer obstrução as investigações".

A ordem entre os militares é silêncio

A alta cúpula do Exército tem dito que a ordem do comandante, general Tomás Paiva, é não comentar a prisão de Braga Netto e que a conduta deve ser aguardar as investigações.

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Apesar disso, nos bastidores, a avaliação feita sob reserva é que a prisão pode ajudar a descontaminar a instituição. O ministro da Defesa, José Múcio, costuma dizer que é preciso punir os CPFs para poder limpar um pouco a imagem golpista que tem sido atrelada ao Exército, por conta das investigações que envolvem o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

"O Exército vem acompanhando as diligências realizadas por determinação da Justiça e colaborando com as investigações em curso. A Força não se manifesta sobre processos conduzidos por outros órgãos, procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República", disse o Centro de Comunicação do Exército, em nota divulgada após a prisão.

Nome de Braga Netto foi revelado pouco antes de prisão

No último sábado, quando a Polícia Federal foi cumprir a ordem de prisão do general Walter Braga Netto, no Rio de Janeiro, um grupo de militares acompanhou a equipe de policiais, como é de praxe em casos que envolvam figuras da caserna.

Integrantes do Exército afirmam que não havia informação sobre quem era o alvo da operação e o nome de Braga Netto só foi revelado no momento do cumprimento da ordem judicial.

A decisão sobre o local que o general da reserva quatro estrelas cumpriria a prisão foi tomada pelo Comando Militar do Leste, que é de responsabilidade do general de Exército Kleber Nunes de Vasconcellos, um quatro estrelas da ativa que, conforme o estatuto militar, tem precedência para supervisionar a prisão do colega de patente (que no caso está na reserva).

A sede do Comando Militar do Leste é o Palácio Duque de Caxias e a decisão em não manter Braga Netto detido no local foi tomada, segundo fontes militares, em razão da alta circulação de pessoal e de as instalações não serem consideradas adequadas para configuração de uma cela.

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Com isso, o general Vasconcellos optou por direcionar Braga Netto para o Comando da 1ª Divisão de Exército.

A unidade é chefiada por um general de divisão Eduardo Tavares Martins, que hierarquicamente tem um posto abaixo de Braga Netto. Apesar disso, o Exército afirma que a unidade está subordinada ao CML, ou seja, o general Vasconcellos ainda fica como o responsável pela tutela do ex-ministro de Bolsonaro.

"A 1ª Divisão de Exército (1ª DE) é uma Organização Militar diretamente subordinada ao Comandante Militar do Leste, que é comandada por General de Exército. Isso garante que o General Braga Netto permaneça sob responsabilidade de um oficial general", afirmou o CML.

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