Carla Araújo

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Reportagem

Múcio e Lula conversaram sobre futuro como dois amigos de quase 80 anos

No último dia 17, o presidente Lula recebeu a visita do ministro da Defesa, José Múcio, em sua residência em São Paulo, onde ainda se recuperava de um procedimento cirúrgico.

O encontro durou cerca de duas horas. Foi uma conversa apenas entre os dois. Fontes próximas do presidente e do ministro relatam que dois amigos de longa data se encontraram para falar do futuro.

Lula tem 79 anos. Múcio, 76. O ministro aceitou ao cargo depois de apelos feitos pelo presidente, que pediu que ele o ajudasse a refazer as pontes com as Forças Armadas. Faltava confiança entre Lula e os militares.

Conforme mostrou a colunista do jornal Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, na conversa, Múcio sinalizou ao presidente que teria cumprido a sua missão.

Isso, no entanto, avaliam auxiliares do governo, não significa que Múcio deixará o governo a curto prazo. No Planalto, da Defesa e no PT, diversas fontes dizem que Múcio só sai se quiser, pois o presidente jamais demitiria o amigo.

Procurado pela coluna, Múcio não retornou.

O trabalho é cansativo e tem mais

O ministro chegou ao governo já dizendo que não saberia o tempo necessário para cumprir a sua missão. "Pode ser um ano, dois, três, quatro", falava. Múcio estava "dedicado aos netos".

Agora, dois anos à frente da pasta, a avaliação feita é que houve de fato uma melhora na relação entre governo e as Forças Armadas.

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Apesar disso, outras batalhas que o ministro travou não foram concluídas, como a aprovação da PEC que tenta afastar os militares da política.

Além disso, Múcio se coloca como uma espécie de barreira de proteção dos militares quando o governo estuda medidas que possam retirar benefícios e privilégios dos militares. E o governo, com dificuldades econômicas, enviou nesta semana o projeto de lei que estabelece que o militar precisará ter pelo menos 55 anos para se aposentar. Mais trabalho para o ministro, dizem.

Auxiliares dizem que Múcio vai aproveitar o recesso de fim de ano. Quer descansar com a família. Em 2025, ele pensa no futuro.

Amigos de 'farra'

Múcio e Lula são amigos de longa data. O ministro gosta de lembrar do convite feito por Lula em 2007, quando ele era um deputado de oposição. O presidente convidou Múcio para assumir a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.

O ministro conta que ouviu de Lula que precisava da habilidade de articulação de Múcio e que precisava trazê-lo para o governo. A amizade cresceu ao longo dos anos. "São amigos de bar e violão", contam. Múcio, aliás, tem outro hobby além de cuidar dos netos: gosta de cantar. Tem até um disco gravado.

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Comandantes ainda não foram informados

A informação de que Múcio teria pedido para sair não chegou na caserna. Fontes militares ouvidas pela coluna disseram que o ministro não conversou com os comandantes sobre uma possível saída.

A resposta sobre o que pensam de Múcio deixar a pasta é quase sempre a mesma: "Nós gostamos dele" e "Vamos torcer para ele ficar".

Alckmin já foi cotado e pode agradar

A conversa reservada de Múcio e Lula alimenta as rodas de conversa em Brasília, que discutem as possibilidades de uma reforma ministerial.

O nome do vice-presidente Geraldo Alckmin, que acumula o comando da pasta de Indústria e Comércio, já foi cotado durante a transição. Uma possível saída de Múcio coloca Alckmin como um sucessor possível.

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Mas o xadrez ministerial ainda tem muito jogo, afirmam auxiliares do presidente.

Lula está 'mexido' e emocionado

Auxiliares de Lula dizem que o presidente ficou impactado com a cirurgia de emergência e está bastante comovido. Alguns auxiliares mais próximos dizem que o presidente percebeu a finitude e tem preocupação com o futuro.

Lula, porém, tem demonstrado que o objetivo dele é passar vitalidade. Saiu andando do hospital e teve alta hospitalar antes do esperado.

O ministro da Defesa disse que na saída que o presidente estava "ótimo". Segundo Múcio, Lula "está se movimentando mais do que deveria"

Prisão de Braga Netto era esperada, mas é desgaste

A conversa também tratou da prisão do general Braga Netto. O ministro admitiu que ela "mexe com militares". Segundo Múcio, "é como se ter um amigo respondendo a um processo". "Você quer que ele pague diante da lei, mas fica constrangido porque ele é um amigo", comentou o ministro.

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Ele [Braga Netto] tem muitos colegas da reserva, colegas de turno, está preso no Rio de Janeiro, é o primeiro general de quatro estrelas, mas não é uma surpresa para absolutamente ninguém. Estamos torcendo para que tudo isso passe e possamos olhar para frente.
Ministro da Defesa, José Múcio, após conversa com presidente Lula

Lula quis saber como estava o "ambiente das Forças", segundo Múcio. A prisão de Braga Netto ocorreu um dia antes da alta do presidente. Quando deixou o hospital, o presidente disse que o ex-ministro de Bolsonaro tem "todo o direito a presunção de inocência".

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