Carla Araújo

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Reportagem

Malafaia e advogados de Bolsonaro divergem sobre Nikolas discursar em ato

Jair Bolsonaro prometeu um ato sem ataques a autoridades e instituições no domingo. Mas a lista de oradores é uma ameaça a este compromisso na opinião de advogados do ex-presidente. O nome que mais causa reservas é o do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Ocorre que a escalação dele é considerada inquestionável na visão do organizador do evento, o pastor Silas Malafaia.

Ainda assim, os advogados e alguns aliados continuam tentando convencer Bolsonaro a vetar o nome do parlamentar. Nos últimos dias, inclusive quando Bolsonaro foi à Polícia Federal e optou pelo silêncio, integrantes da defesa do ex-presidente fizeram questão de salientar ao ex-presidente o risco de que o evento "fuja do controle" com o microfone em mãos erradas.

Malafaia, porém, faz questão que Nikolas suba no trio elétrico do ex-presidente. O pastor ainda adota um tom enérgico para tratar da tentativa de barrar o deputado.

"Advogado do presidente não manda no evento. Deixar aqui bem claro", disse ao UOL.

O organizador do ato acrescenta que outros parlamentares combativos terão acesso ao microfone: o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) e o senador Magno Malta (PL-ES). Todos os escolhidos por Malafaia são ligados a bandeiras religiosas. Nikolas e Malta são evangélicos. Gayer foi do partido Democracia Cristã.

Mesmo com nomes tão aguerridos fazendo discurso, o pastor afirma que não há risco de quebrar o pacto de não agredir instituições e autoridades. Ele declarou que todos os oradores estão comprometidos em ser respeitosos.

Malafaia afirma que será o único a mencionar Alexandre de Moraes e o STF, mas diz que não fará nada que transforme o ato em um evento golpista. A promessa é um discurso com "constatações" sobre o ministro algoz de Bolsonaro. Ele se comprometeu a adotar uma linha mais amena e sem palavras ríspidas como ditador da toga, forma como Malafaia se refere ao ministro do STF nos vídeos que publica nas redes sociais.

As garantias do pastor/organizador, porém, não convencem os advogados. Apesar de os convites em redes sociais sempre pregarem o caráter pacífico do ato, a avaliação é que há o risco de a situação mudar de rumo na hora do evento. Eles têm receio de que agentes políticos se empolguem e passem dos limites se sentirem que estão diante de um público sedento por revanche.

A preocupação é compartilhada por alguns deputados e senadores bolsonaristas. Eles avaliam que uma escalada nos discursos dará munição para alimentar os inquéritos de Moraes contra Bolsonaro.

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Outra consequência seriam palavras golpistas prejudicarem o ex-presidente diante da população — o que pode ter um impacto eleitoral. Mesmo inelegível, Bolsonaro é visto como o principal puxador de votos da oposição.

Após a publicação da reportagem, Fabio Wajngarten, advogado e assessor de Bolsonaro, entrou em contato com o UOL e afirmou que a defesa do presidente não opina na escalação dos oradores que vão discursar no ato deste domingo.

O UOL segue tentando contato com Nikolas Ferreira, que não se manifestou sobre o assunto.

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