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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Lula vai hoje ao Nordeste, pula maiores estados e foge de 'dor de cabeça'

Marília Arraes apoia Lula e conta com apoio de petistas no estado - CLÁUDIO KBENE/DIVULGAÇÃO
Marília Arraes apoia Lula e conta com apoio de petistas no estado Imagem: CLÁUDIO KBENE/DIVULGAÇÃO

Colunista do UOL

16/06/2022 09h57Atualizada em 16/06/2022 09h57

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inicia hoje uma visita de três dias ao Nordeste. Em Natal, Maceió e Aracaju, ele vai se encontrar com governadores e líderes políticos pela primeira vez desde que formalizou a pré-candidatura junto ao vice Geraldo Alckmin (PSB).

O tour pelo Nordeste chamou a atenção por ter deixado de fora os três maiores estados da região: Bahia, Ceará e Pernambuco —por onde inclusive ele vai passar durante a viagem entre o Rio Grande do Norte e Alagoas.

O PT não deu detalhes sobre o porquê de pular esses estados. A coluna pediu entrevistas com Lula e com a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, mas nenhum dos dois quis comentar.

A coluna apurou, porém, que estão marcadas para o próximo mês visitas a mais estados da região.

Começo por Natal

Lula inicia a viagem em Natal, onde deve participar da Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Consórcio Nordeste. São esperados no encontro todos os governadores da região, com exceção de Carlos Brandão (PSB), do Maranhão, que passou por uma cirurgia.

Depois, Lula segue para Maceió, onde tem evento no Centro de Convenções ao lado de uma trupe do MDB: o governador Paulo Dantas, o ex-governador Renan Filho e o senador Renan Calheiros.

A última parada é em Aracaju, onde o senador Rogério Carvalho (PT), escolhido para disputar o governo, deve ser o cicerone.

Os problemas na trinca dos maiores

Bahia, Ceará e Pernambuco dão dores de cabeça diferentes ao PT, com problemas a resolver em todos esses lugares: seja racha interno, baixa intenção de votos ou mesmo definição de alianças.

No caso da Bahia, a escolha do PT por Jerônimo Rodrigues ocorreu após a desistência do senador Jaques Wagner (PT) de concorrer ao cargo que ocupou entre 2007 e 2014. Com isso, a chapa perdeu força para tentar continuar no poder (o PT venceu as últimas quatro eleições majoritárias no estado).

Ex-secretário de Educação do estado, Rodrigues ainda não conseguiu emplacar nas pesquisas e sofreu com baixas na aliança, como a do vice-governador João Leão (PP), que declarou apoio a ACM Neto (União Brasil), líder com folga dos levantamentos feitos até aqui.

O maior desafio no estado é fazer com que o petista consiga reverter a vantagem até a eleição.

ACM Neto lidera pesquisas, seguido por Jerônimo Rodrigues  - Max Haack/Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Salvador e Mateus Pereira/GOVBA - Max Haack/Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Salvador e Mateus Pereira/GOVBA
ACM Neto lidera pesquisas, seguido por Jerônimo Rodrigues
Imagem: Max Haack/Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Salvador e Mateus Pereira/GOVBA

Em Pernambuco, o problema é outro: o acordo nacional com o PSB incluiu o apoio à candidatura do deputado federal Danilo Cabral.

Entretanto, o nome dele enfrenta resistência no PT, especialmente da ala mais ligada a Marília Arraes (Solidariedade) —que deixou o PT na última janela partidária após não concordar com a aliança com o PSB e vai concorrer ao governo.

A saia justa no estado é clara para Lula. Recentemente Marília recebeu inclusive apoio de lideranças petistas dissidentes. O governo socialista tem alto índice de rejeição popular, segundo pesquisas mais recentes.

Além disso, Marília está em um partido que nacionalmente apoia Lula e tem uma identificação histórica com o ex-presidente (que a apoiou contra o mesmo PSB na eleição de 2020 para a Prefeitura do Recife) e seu eleitor.

Já Danilo Cabral apoiou Aécio Neves (PSDB) em 2014 e reassumiu o cargo de deputado federal por um dia só para votar a favor da abertura de processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). "Foi um erro histórico já reconhecido pelo partido", disse, recentemente, em sabatina do UOL.

Danilo Cabral ao lado de Lula - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Danilo Cabral ao lado de Lula
Imagem: Reprodução/Facebook

Entre todos os casos, nenhum é mais problemático que o Ceará, onde o PT nem sequer sabe ainda se irá seguir com a união com o PDT. O nó está no eventual palanque dividido entre Ciro Gomes e Lula no estado.

O ex-governador Camilo Santana (PT) deixou o cargo em abril para ser candidato ao Senado e deixou em seu lugar a sua vice, Izolda Cela (PDT), que tem a preferência dos petistas para ser a candidata do grupo.

Entretanto, na família Ferreira Gomes, o preferido parece ser o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT). O impasse atrasa a escolha do nome, enquanto o principal concorrente ao cargo, Capitão Wagner (União Brasil), está com a pré-campanha a todo o vapor e liderando as pesquisas de intenção de voto.

3.fev.2017 - Lula recebe vista de Ciro e do ex-governador Camilo Santana no hospital Sírio Libanês, em São Paulo - Ricardo Stuckert/Instituto Lula - Ricardo Stuckert/Instituto Lula
3.fev.2017 - Lula recebe vista de Ciro e do ex-governador Camilo Santana no hospital Sírio Libanês, em São Paulo
Imagem: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

"O PT não é bloco monolítico no Ceará: tem aqueles que defendem a aliança, que é a ala mais ligada ao Camilo Santana, e tem outros mais fiéis a Lula, como a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins, que querem uma candidatura fiel para dar esse palanque a Lula", explica a cientista política e professora da UFC (Universidade Federal do Ceará) Monalisa Torres.

Para ela, diante dessa divisão e de um leque grande de alianças que compõem o governo, os aliados têm dificuldade em acomodar interesses e achar um consenso.

"O componente externo atrapalha a aliança. O Ceará é o estado do Ciro, então é muito simbólico para ele vencer aqui, mas as pesquisas mostram que ele está tendo dificuldade. Talvez por isso pense em indicar seu preferido para ter um palanque mais fiel", completa.

Para o cientista político Adriano Oliveira, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o eleitor do Nordeste tem sinalizado ainda pouco interesse às eleições estaduais.

As pesquisas qualitativas mostram que o eleitor não está concentrado na eleição estadual. Ele está atento à eleição presidencial por conta da crise política e econômica."
Adriano Oliveira, da UFPE

Oliveira alega que, nesse cenário, as eleições locais estão abertas. "As pesquisas de intenção de voto hoje na região Nordeste não dizem nada", afirma.