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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Programa Cisternas tem pior resultado em 2022 e gera espera por água no NE

Cisterna instalada em Palmeira dos Índios, em Alagoas, no semiárido nordestino - Beto Macário/UOL
Cisterna instalada em Palmeira dos Índios, em Alagoas, no semiárido nordestino Imagem: Beto Macário/UOL

Colunista do UOL

29/01/2023 04h00

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A construção de cisternas para moradores do semiárido teve o pior resultado em 20 anos do Programa Cisternas —destinado a garantir a reserva de água a famílias que vivem em área rural em regiões de seca.

Segundo dados do MDS (Ministério da Assistência e Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome), foram construídas 3.698 cisternas em 2022, o menor número da série histórica do programa.

Chega a 350 mil sertanejos a fila de espera por um equipamento familiar (que serve para consumo humano e armazena 16 mil litros), segundo dados da ASA (Articulação do Semiárido) —organização que congrega mais de 3 mil entidades e que foi a idealizadora do projeto de universalizar cisternas.

No caso de cisterna de produção (com capacidade para 52 mil litros para abastecer produções e pequenas criações de animais), essa fila é ainda maior: 800 mil.

O governo de Jair Bolsonaro deixou de lado o programa criado em 2003 por Lula e executou basicamente contratos antigos ou aqueles com verbas destinadas por emendas parlamentares.

A coluna procurou o MDS em duas oportunidades para que comentasse os números e explicasse se iria aumentar investimentos em 2023, mas não obteve retorno.

Segundo o coordenador da ASA, Naidson Batista, o Programa Cisternas foi crucial devido "ao seu alcance, significado e resultados transformadores" em períodos de seca.

"Ele mata a sede e a dependência, produz alimentos e combate a fome", destaca.

Batista diz que, durante a transição do governo no fim de 2022, a volta do programa foi debatida —trata-se de uma promessa do presidente Lula na campanha.

"Isso significa que será retomado. Já houve contatos bons, concretos. Há um mútuo interesse forte."

Ivone pega água para beber, cozinhar a até irrigar sua pequena plantação  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ivone pega água para beber, cozinhar a até irrigar sua pequena plantação
Imagem: Arquivo pessoal

Sem ter onde armazenar, os sertanejos precisam fazer longos percursos para buscar água, como faz Ivone da Silva, 45, que pega água suja de dois em dois dias a 4 km de sua casa, em Jacobina, no sertão baiano.

"Temos um jegue e uma charrete para isso. Uso essa água para beber, cozinhar e tomar banho", conta.

Programa premiado

O Programa Cisternas recebeu prêmios internacionais como o Prêmio Sementes 2009, da ONU (Organização das Nações Unidas), concedido a projetos de países em desenvolvimento feitos em parceria entre organizações não governamentais, comunidades e governos.

Também recebeu também a premiação "Future Policy Award" (Política para o Futuro), em 2017, da World Future Council, em cooperação com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação.

Cisterna entregue à escola da comunidade de São Francisco, em Nova Fátima (BA) - MOC/Diculgação - MOC/Diculgação
Cisterna entregue à escola da comunidade de São Francisco, em Nova Fátima (BA)
Imagem: MOC/Diculgação