Carlos Madeiro

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Reportagem

Empresário mandou áudio à filha antes de ser levado por rio: 'Cuida da mãe'

Antes de ser levado pela correnteza no rio Pardinho no último dia 30, o empresário Carlos Wolfart, 41, enviou um áudio e fez um último pedido à filha de 12 anos — a família considera uma mensagem de despedida. "Cuida da mãe também, tá?", disse.

No início da manhã daquele dia, Carlos saiu do sítio onde estava hospedado, em Sinimbu (RS). Ele queria ver o nível das águas do rio, mas acabou ficando ilhado, buscou abrigo em uma árvore e acabou sendo levado pela correnteza.

O corpo de Carlos foi achado pelos bombeiros apenas no último dia 8. Ele foi sepultado na manhã desta sexta-feira (10) em Itapiranga, sua terra-natal no oeste de Santa Catarina.

Carlos estava no sítio em Sinimbu para participar de um casamento — a festa foi cancelada depois que ele desapareceu.

Carlos Wolfart, morto na tragédia das cheias em Sinimbu (RS)
Carlos Wolfart, morto na tragédia das cheias em Sinimbu (RS) Imagem: Arquivo pessoal

Ele relatou que a água estava subindo

Em outro áudio à filha, Carlos pediu orações. "Só reza pra mim, só por sorte. O rio tá subindo", diz.

Quem saiu em busca de Carlos foi o cunhado dele, Gilberto Eidt, 47, que iria se casar naquela tarde.

Os dois trocaram mensagens e ligações enquanto o empresário estava em uma árvore. "No último desses áudios, ele diz que o medo é comer a terra por baixo, que aí já era", conta Gilberto.

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Ainda consegui ligar e falar com ele após esse áudio. Eu falei para ele ficar tranquilo que a gente estava chegando.
Gilberto Eidt sobre a última ligação feita a Carlos

Festa cancelada

Carlos saiu do sítio onde estavam hospedados logo cedo para ver a força das águas do rio. Por volta das 7h, ligou para Gilberto e disse que precisava ser resgatado.

A gente tem um lago bem grande no sítio, e ele passou por lá. Depois desceu uns 500 metros, me ligou de vídeo para mostrar a situação. Mas quando foi voltar, o rio estava passando por esse lago. Ele não sabia nadar e não conseguiu mais passar.
Gilberto Eidt

Gilberto no rio em busca do cunhado
Gilberto no rio em busca do cunhado Imagem: Reprdoução

"Eu liguei para um amigo chefe da polícia, ele disse que não tinha como resgatar. Consegui dois helicópteros de amigos, só que eles não tinham teto para decolar. Estava chovendo muito, com neblina e raios", lembra Gilberto

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Gilberto diz que a situação foi se complicando e ele decidiu, então, ligar para dois amigos que têm jet ski para tentar chegar até Carlos. O grupo que se reuniu para resgatá-lo chegou ao local por volta das 16h.

Era um trajeto que dava para fazer em 20 minutos, mas demoramos quatro horas porque pegamos outras quatro enchentes de afluentes menores. Eu fui com um colete a mais e uma corda para tentar salvá-lo, mas cheguei atrasado. Os vizinhos próximos viram ele indo embora com a árvore.
Gilberto Eidt

Com a tristeza dos familiares, a festa de casamento foi foi cancelada. Em uma ação solidária, os noivos decidiram doar toda a comida do buffet para vítimas desabrigadas.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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