Conteúdo publicado há 19 dias
Carlos Madeiro

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Calor após a frente fria: cientista explica 'dia assustador' do fogo em SP

A onda de calor que chegou a São Paulo após uma frente fria de clima seco ajudou o interior estado a ter "condições perfeitas" para que as queimadas ocorressem e se espalhassem pelo estado nos últimos dias.

Quando a gente tem uma temperatura muito alta, tem as condições para que o fogo aconteça. E quando a gente tem isso em sequência de uma frente fria, em que o ar fica muito seco, a gente tem uma receita perfeita para o fogo se alastrar.
Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo

Nesta sexta-feira, o estado registrou, em apenas 24 horas 1.886 focos, uma média de 78 por hora e mais de um por minuto. Esse é o maior número de focos de calor já registrado pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em um dia no estado desde o início das medições, em 1998.

Segundo ela, a sexta-feira "foi um dia assustador para o estado". "Quem imaginaria que o estado de São Paulo fosse ter muito mais focos de calor que qualquer estado do Brasil?", questiona.

Para efeito de comparação, o número de focos desta sexta-feira é quase seis vezes maior que o total registrado durante todos os 31 dias do mês de agosto de 2023, que somaram 352 incêndios. Esse mês, por sinal, já tem o recorde da série histórica do INPE.

Meses com maiores números de queimadas:

  • Agosto de 2024 (até o dia 23) - 3.175
  • Agosto de 2010 - 2.444
  • Agosto de 2021 - 2.277
  • Setembro de 2020 - 2.254
  • Setembro de 2017 - 1.930
Mapa mostra contração de focos em São Paulo
Mapa mostra contração de focos em São Paulo Imagem: INPE

Olhando aqui a distribuição geográfica dos focos de calor, a gente percebe que foram grandes áreas queimadas na região ali de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto. Chama a atenção pela concentração.

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Ela afirma que não é possível saber o que deu início ao fogo, mas "com certeza não foi causa natural". "Esses incêndios começaram por alguém que acendeu esse fogo", relata.

Ane explica que o fogo acontece em uma área em uma vegetação já estava "muito estressada", atingindo assim um "ponto ótimo para queima." "E aí esse fogo iniciou se alastrou de forma muito rápida."

Outra questão que ela cita é que o fogo tem acontecido em grandes áreas paulistas. "Olhando o mapa e a distribuição dos focos, me parece que é uma região principalmente de cana-de-açúcar; ou seja, são grandes áreas que estão sendo afetadas por isso", conclui.

Mapa mostra situação de risco climático de queimadas e seca
Mapa mostra situação de risco climático de queimadas e seca Imagem: Lapis/Ufal

Outra situação que também afeta São Paulo é que o ar está poluído não só pelo fogo que ocorre no estado. "Temos Amazônia, Cerrado e Pantanal fumando também", explica o meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Lapis (Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite) da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).

Esses biomas têm queimadas e muita fumaça saindo ali do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que se junta com a que vem da Amazônia. E logo, logo a Caatinga também vai aumentar em números de focos.
Humberto Barbosa

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Situação preocupa

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Por conta das queimadas, o governo de São Paulo criou um gabinete de pronta resposta. Na manhã deste sábado (24), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) realizou um sobrevoo nas áreas com maior incidência de queimadas no interior.

Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências da Defesa Civil, 34 cidades estão em alerta máximo para queimadas e 24 enfrentam focos ativos de incêndio. Todas essas localidades sofrem com baixa umidade do ar e elevado risco devido à onda de calor que afeta o estado.

Segundo o governo paulista, mais de 7,3 mil profissionais e voluntários estão mobilizados no combate às chamas e na orientação da população.

Às 9h30 deste sábado, a SP 215 (Rodovia Luiz Augusto de Oliveira) estava com interdição parcial entre o km 195 e o km 209, no município de Dourado.

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Foto mostra o Instituto de Geociências da Unicamp, em Campinas, com o céu laranja pela fumaça
Foto mostra o Instituto de Geociências da Unicamp, em Campinas, com o céu laranja pela fumaça Imagem: Reprodução/X @Czar_LOL

Cidades com focos ativos de incêndio:

  • Alumínio
  • Bananal
  • Bebedouro
  • Boa Esperança do Sul
  • Coronel Macedo
  • Dourado
  • Iacanga
  • Ibitinga
  • Jaú
  • Lucélia
  • Monte Alegre do Sul
  • Nova Granada
  • Piracicaba
  • Pitangueiras
  • Poloni
  • Pompeia
  • Pontal
  • Presidente Epitácio
  • Salmourão
  • Santo Antonio da Alegria
  • Santo Antonio de Aracanguá
  • Tabatinga
  • Taquarituba
  • Torrinha

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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