João Campos alfineta esquerda em eleição: 'Venceu quem teve pauta concreta'
O prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), afirma que as eleições municipais de 2024 devem deixar um recado para a esquerda: é preciso ir bem além do discurso para conseguir vitórias nas urnas.
Olhe as grandes vitórias nas grandes cidades: elas não se deram no campo ideológico, mas sim no campo de trabalho, da entrega, de quem teve pauta concreta, de quem fez, de quem realizou. Esse é o grande recado, principalmente para a esquerda.
João Campos (PSB), prefeito do Recife
Campos foi o prefeito mais votado de partidos de esquerda entre capitais do país, com 78,11% dos votos válidos ainda no primeiro turno —a maior votação já conquistada no Recife.
No segundo turno, ele se tornou uma estrela política, foi requisitado por outros candidatos e visitou cidades —Fortaleza, Belém e Natal— para ajudar políticos locais.
Em conversa com a coluna na noite deste domingo, ele fez uma análise do resultado das eleições pelo país, em que disse acreditar que "os extremos, como o PL", foram os maiores derrotados deste segundo turno.
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Confira os principais trechos da entrevista:
Vencedores do segundo turno
Os lados mais extremos, incluindo o PL, têm candidatos que se mostraram bons de chegar ao segundo turno, mas com dificuldade maior de vencer eleição. O PL, que tinha uma grande quantidade de candidatos, venceu só em pouquíssimos lugares. O jogo é o esperado, sem muitas surpresas.
Perfil do eleitor brasileiro
Acho que o brasileiro tem uma posição clara: a maioria da população tem uma alinhamento pendente à centro-direita, com composição de viés mais tendencioso ao conservadorismo. Claro que é fundamental ter posição ideológica, mas o que tem acontecido é que o debate é muito extremado, com pequenas teses restritas —em que você tem cinco ou seis temas, cada um com sua opinião, ninguém conversa nada e vira uma briga de galera.
Recado à esquerda
As pessoas estão sedentas de concreto. Olhe as grandes vitórias nas grandes cidades: elas não se deram no campo ideológico, mas sim no campo de trabalho, da entrega, de quem teve pauta concreta, de quem fez, de quem realizou. Esse é o grande recado, principalmente para a esquerda, que insiste em fazer discussão de teses contra teses no campo superficial; e a esquerda, pelo cenário atual, tende a ter minoria.
Ganha quem faz
O que ficou claro é que praticamente todo mundo que teve êxito realizou nas áreas de política social. O que isso mostra? Que o discurso de proteção social, que são bandeiras muito caras à esquerda, está sendo tocado por gestões exitosas. E eles estão fazendo isso independentemente do campo político.
Então você tem uma turma que entrega, e outra que está só no discurso. A bandeira já não tem tanta força porque muita gente faz.
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Cabo eleitoral da esquerda
Eu fui a essas cidades [Belém, Natal e Fortaleza] não por buscar resultado eleitorais apenas, mas fui por compromisso de campo ideológico, de crença, para apoiar quem acreditava que era melhor. Fui cumprir o papel de coerência que sempre tive na trajetória política.
Nordeste segue celeiro da esquerda, mas...
Acho que o Nordeste ele ainda é um celeiro da centro-esquerda, mas tem uma leitura que precisa ser feita das regiões metropolitanas e das grandes cidades, versus cidades de menor porte.
As regiões metropolitanas do Nordeste, de maneira generalizada, começam a ter uma política mais parecida com outras metrópoles do país porque os problemas são semelhantes: segurança, mobilidade, educação e saneamento. Isso está acima da tese ideológica. Se você tem o problema, você quer a solução.
Derrotas nas duas cidades do 2º turno em PE
Eleição se ganha e se perde [os candidatos de Campos perderam Olinda e Paulista]. Mas a oposição de Pernambuco nunca fez tantos prefeitos como este ano: foram mais de 80 cidades. Das dez maiores cidades, seis são da oposição. Foi o pior resultado do governo na história democrática de Pernambuco. O PSB foi o partido mais votado para prefeito. Se você tirar a minha votação aqui no Recife, ainda somos o mais votado.
Candidato ao governo de PE em 2026?
2026 só se discute em 2026. Meu pai [Eduardo Campos] ensinou isso.
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