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Carolina Brígido

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Para driblar armadilhas de Bolsonaro, Supremo se cala sobre parada militar

Colunista do UOL

10/08/2021 17h10

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A imagem foi simbólica: virado para a sede do STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assistiu, do outro lado da Praça dos Três Poderes, ao desfile militar desta terça-feira (10). A resposta à provocação foi o silêncio. Nenhum dos dez ministros da Corte se manifestou publicamente sobre o evento, mesmo tendo considerado um acinte a presença de tanques no coração da República em um momento de crise institucional.

Nos bastidores do STF, a análise é de que Bolsonaro está provocando os ministros a todo momento para aumentar ainda mais da crise entre o Palácio do Planalto e a Corte. O presidente vem conseguindo fazer isso. No último mês, caprichou nos xingamentos e ataques ao Judiciário, personalizado na figura do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso.

De início, as respostas eram notas de repúdio. Em um segundo momento, o TSE e o STF aperfeiçoaram o contra-ataque e abriram inquéritos contra Bolsonaro. O presidente do Supremo, Luiz Fux, que estava calado no início esperando a crise passar, partiu para o ataque e cancelou o encontro que ocorreria na semana passada entre os chefes dos Três Poderes. Se convenceu de que o momento não é para diálogo.

A onda crescente de provocações de Bolsonaro resultou nas respostas enérgicas do Judiciário, mas também acendeu um alerta. Ministros sabem que o presidente tem tentado forçar uma crise ainda maior. Isso poderia acontecer, por exemplo, se o STF desse uma ordem ao presidente e ele resolvesse não cumprir.

Na segunda-feira (9), o ministro Dias Toffoli se viu diante de um pedido para barrar o desfile militar. Preferiu sair pela tangente com um argumento técnico. Disse que o pedido deveria ter sido feito ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e, portanto, não poderia julgar.

Essa atitude mostra prudência. Se, por acaso, o ministro tivesse determinado a suspensão do evento e Bolsonaro descumprisse a ordem, o STF se veria na obrigação de tomar uma atitude mais enérgica. Seria como acender um fósforo em um tanque de gasolina.

Nos últimos dias, a cúpula do Judiciário percebeu que precisa reagir aos ataques de Bolsonaro. Mas também notou que é preciso atuar com cautela. Os ministros sabem que o adversário tem potencial para desestabilizar as instituições - e não faz questão de evitar o confronto direto. O STF tem tentado se equilibrar entre o silêncio e o contra-ataque.