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Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que o STF pode se dar ao luxo de não pontuar bem no Datafolha

Prédio do STF - Divulgação
Prédio do STF Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

27/12/2022 08h51

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Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) não precisam do voto de ninguém para chegar onde chegaram. No sistema brasileiro, o presidente da República escolhe os integrantes da Corte por critérios previstos na Constituição Federal: notável saber jurídico, reputação ilibada e idade entre 35 e 65 anos.

Os ministros têm o direito de permanecer na cadeira até os 75 anos, quando ocorre a aposentadoria compulsória. Existe a hipótese de um integrante do STF sofrer impeachment, mas nunca aconteceu. Ou seja, é um emprego bastante estável.

Esse conjunto de fatores faz com que o STF tenha a capacidade de exercer o papel contramajoritário, quando invalida atos dos outros Poderes em defesa da Constituição. Em tese, os integrantes do tribunal não precisam agradar ninguém, porque isso não lhes custaria o cargo.

Ainda em 2014, o ministro Luís Roberto Barroso, num rompante de clarividência, disse que o STF "pode e deve fazê-lo para defender as regras do jogo democrático e os direitos fundamentais". A frase foi dita em uma palestra em Belo Horizonte a segue ecoando.

Ainda segundo Barroso, o Supremo também pode atuar de forma representativa, quando atende a demandas sociais que ficam paradas no Congresso Nacional. "Onde houver um direito fundamental em questão ou um interesse relevante da sociedade, o tribunal não pode se omitir", afirmou.

Recentemente, esses dois papéis renderam impopularidade ao STF. Com a lupa focada nos últimos quatro anos, durante a gestão de Jair Bolsonaro, é possível enxergar que dois fatores afundaram o tribunal ainda mais no gosto popular.

O primeiro tem relação direta com ataques e xingamentos do presidente da República, reproduzidos por seus simpatizantes nas ruas e nas redes sociais. O segundo fator foi o contra-ataque, ou melhor, o tal papel contramajoritário, usado pelo Judiciário sem parcimônia para conter os arroubos de Bolsonaro e garantir que as eleições fossem realizadas.

A inclusão do Supremo entre as perguntas do Datafolha é um indício de que a Corte, antes desconhecida do brasileiro, hoje virou assunto. Mas, se dependesse do voto direto, boa parte dos ministros não seria eleita.

Para 31% dos entrevistados, o tribunal realiza um trabalho bom ou ótimo. Outros 31% avaliam a atividade do Supremo como ruim ou péssimo. Ainda assim, foi só Bolsonaro parar de atacar que a popularidade do STF aumentou. Na pesquisa do final de julho, os índices eram de 23% para bom ou ótimo e 33% para ruim ou péssimo.

Em uma democracia, o STF deve ser firme o suficiente para seguir atuando enquanto apanha. Na gestão Bolsonaro, a Corte passou a ser atacada abaixo da linha da cintura, de forma perene. Ao passo que fechou o cerco contra fake news e atos antidemocráticos, os ataques dos aliados os presidente ganharam mais força. Um lado retroalimentava o outro. Até que Bolsonaro parou. Foi derrotado nas urnas e, aparentemente, perdeu ao menos parte da energia para atacar.

O STF - em especial Alexandre de Moraes - segue no combate aos atos antidemocráticos. Se vai vencer a guerra, não se sabe. Mas certamente vai seguir entre os principais tópicos do Datafolha.