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Chico Alves

Guedes deve ser rechaçado como foi Eduardo Bolsonaro

Ministro da Economia, Paulo Guedes -  Agência Brasil
Ministro da Economia, Paulo Guedes Imagem: Agência Brasil

Colunista do UOL

26/11/2019 08h47

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Pouco depois das eleições, quando se preparava para assumir o cargo de ministro da Economia, Paulo Guedes deu uma entrevista à porta da casa do empresário Paulo Marinho sobre as dificuldades previstas para aprovar no Congresso a Reforma da Previdência. Argumentou que era a única forma de garantir o benefício a médio prazo e usou os microfones dos jornalistas para convocar o povo a pressionar deputados e senadores: "Prensa neles!", bradou, de cenho franzido.

Naquele momento, não pareceu achar que manifestações populares deveriam ser vistas como baderna. Tampouco avaliou que era cedo para fazer chamamento desse tipo, mesmo que os parlamentares, assim como ele, sequer tivessem assumido seus mandatos.

Guedes também não se incomodou com as mobilizações de rua a favor do governo Bolsonaro e sua política econômica, que nos primeiros meses do ano ainda conseguiam encher ruas e avenidas de várias cidades do país.

Sobre os protestos que tiveram como pauta o fechamento do STF ou do Congresso (felizmente inexpressivos), o ministro também não deu um pio.

Agora, vem a público revelar seu pânico de manifestações — desde que sejam contra o governo a que pertence. Vai mais longe: endossa as palavras do deputado Eduardo Bolsonaro de que um AI-5 será justificável se houver povo na rua contra as medidas econômicas que está tomando. Teme revoltas como as do Chile ou da Colômbia.

Faz tempo que o ministro da Economia já não fazia jus à fama de governista civilizado, em contraponto às caneladas que o presidente é seus filhos costumam desferir diariamente. Guedes também é chegado a usar a canela e mostrou isso várias vezes. Repetiu a empresários as ofensas à primeira-dama francesa, disse que os pobres não têm dinheiro porque não sabem poupar e outras coisas do tipo.

Não se imaginava, porém, que seu repertório de sandices incluísse também as bravatas autoritárias que Jair Bolsonaro, seus filhos e alguns auxiliares costumam deixar escapar. Para espanto geral, o perfume e o vocabulário do Chigago boy podem ser diferentes, mas seus pendores ditatoriais são os mesmos.

A declarações tão abjetas é preciso que as instituições respondam com a mesma energia que fizeram quando Eduardo Bolsonaro ameaçou a democracia na entrevista a Leda Nagle. Não sendo Guedes o desmiolado que muitos consideram ser o filho 03 do presidente, a fala ganha ainda mais gravidade. Seria o caso de pensar até em destituí-lo do cargo, algo que Bolsonaro certamente não fará.

Que o ministro seja rebatido duramente, é o que esperam os democratas.

Os loucos do AI-5 não conseguem enxergar que, apesar de todas as dificuldades da crise que multiplica o desemprego e a desigualdade, o povo brasileiro se mantém pacífico à espera de que os governantes trabalhem para reverter o quadro. Em nada se parece com os hermanos que nos últimos meses sacodem a rotina de vários países vizinhos.

Caso a massa perca a paciência, é do jogo democrático que se manifeste nas ruas. Em caso de excessos, têm as autoridades estaduais recursos para cuidar do problema sem precisar recorrer a dispositivos ditatoriais.

Se protestos feitos no passado contra Dilma Rousseff e Michel Temer foram encarados corretamente como sendo do jogo democrático (inclusive com alguns integrantes do atual governo a participar deles), por qual motivo agora não seriam, ministro? A pimenta deve arder igualmente em todos os olhos, é assim nas democracias.

Como agravante, é preciso que Guedes entenda que declarações desse tipo não causam turbulências apenas no cenário político. Também a economia é abalada, já que investidores internacionais não gostam de botar dinheiro em repúblicas de bananas (e o ministro escolheu justamente Washington para dar vazão a seu autoritarismo).

Se Paulo Guedes for o mais ajuizado no governo Jair Bolsonaro, como se acreditava até pouco tempo, já se vê que estamos muitíssimo mal parados.