Aos mais ricos, Guedes diz que mais pobres são culpados por crise ambiental
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Depois de sua antológica bobageirada, quando disse que a culpa da pobreza é dos pobres que não sabem poupar, o ministro da Economia Paulo Guedes foi longe para soltar mais uma tolice contra os despossuídos. Em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico, ele fez um comentário para lá de infeliz sobre as causas dos problemas ambientais. "O pior inimigo do meio ambiente é a pobreza", chutou o ministro.
Cheio de convicção, como é do seu costume, ainda completou: "Destroem porque estão com fome".
As afirmações de Guedes vão totalmente contra o que se constata na vida real. Na Amazônia, as ameaças mais constantes têm a ver com parte do agronegócio, que amplia o plantio de soja e criação de gado em áreas impróprias, e grandes madeireiros ilegais, que se beneficiam da falta de fiscalização do governo.
Em outros estados, empresas gigantescas deixam sequelas graves na natureza, como a Petrobras (que está entre as 50 companhias que mais poluem no mundo), a Vale (Mariana, Brumadinho e as outras barragens mostram isso) e a CSN, que há vários anos suja o ar da cidade de Volta Redonda.
Os governos também dão contribuição importante à depredação ambiental. Basta olhar a qualidade da água que corre nos rios de São Paulo ou do Rio de Janeiro (onde, aliás, o Guandu virou praticamente leito de esgoto) para ter certeza que os instrumentos públicos de fiscalização dos poluidores não está funcionando.
E os pobres, então, citados por Guedes como vilões ambientais? A despeito da contribuição que dão ao problema por falta de alternativas ou conscientização, eles estão longe de ser os "piores" inimigos. São, na verdade, as maiores vítimas. Na Amazônia, nas praias cobertas de óleo do Nordeste ou na rota dos rompimentos de barragens, são justamente eles os que mais sofrem.
Não bastasse isso, ainda são obrigados a assistir no aparelho de TV (comprado não se sabe como) Guedes culpá-los por mais esse crime.
Encantado com os mais poderosos governantes e administradores de empresas do planeta, o ministro defendeu em Davos uma tese que deve ter surpreendido os ricaços. Afinal, há um consenso formado de que a crise ambiental deve ser enfrentada com políticas de grande alcance e gestão sustentável. Falta apenas aos endinheirados chegar a um acordo de como fazer isso.
Já o ministro brasileiro, ao procurar responsáveis pela tragédia que se abate sobre a natureza em todas as partes do mundo, não olha para cima, mas para baixo. Pensando bem, para alguém que, como ele, pretende taxar desempregados e reduzir o valor de benefícios de idosos e incapazes a título de equilíbrio fiscal, nada desse tipo surpreende.
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