"Polícia quer me matar, não prender", disse ex-capitão Adriano a advogado
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O ex-capitão PM Adriano da Nóbrega, acusado de chefiar a milícia "Escritório do Crime", morto hoje pela polícia na zona rural do município de Esplanada (BA), temia ser alvo de "queima de arquivo". Na quarta-feira, Adriano ligou para o advogado Paulo Emílio Catta Preta e avisou do medo de que a polícia quisesse matá-lo e não prendê-lo. O ex-capitão chefiaria quadrilha que tinha em seus quadros dois acusados de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
A informação foi publicada pelo repórter Caio Sartori, do Estado de S. Paulo, e confirmada pelo advogado nessa entrevista à coluna. "Se eu entrar na prisão eu tô morto em um período muito curto e tenho absoluta certeza de que essa operação não é para me prender, é para me matar", disse Adriano a Catta Preta. A mulher de Adriano, Julia, ouviu do ex-capitão a mesma informação.
UOL - O ex-capitão Adriano ligou para dizer ao sr. que tinha medo de ser morto pela polícia, numa espécie de "queima de arquivo"?
Paulo Emílio Catta Preta - Foi a primeira vez que falei com ele. Quando fui constituído, o processo já estava andando, então nunca tive a oportunidade de falar com o Adriano. Tinha sido sempre por meio de familiares. Mas na semana passada, na quarta-feira, logo depois daquele incidente lá na Costa do Sauípe, quando a polícia fez uma operação, fui surpreendido por uma ligação dele no meu celular.
"Dr. Paulo, aqui é o Adriano, seu cliente, nunca nos falamos". O motivo da ligação é que ele estava muito receoso, tinha certeza de que essa operação não tinha sido feita para prendê-lo, mas sim para matá-lo. Até tentei dizer a que nessas circunstâncias eu preferia que ele se entregasse, para facilitar os habeas corpus que temos contra a prisão preventiva, enfim...Mas ele disse: "Doutor Paulo, eu não passo vivo. Se eu entrar na prisão eu tô morto em um período muito curto e tenho absoluta certeza de que essa operação não é para me prender, é para me matar". Palavras dele.
Tentei tranquilizá-lo e disse que estava muito confiante na absolvição no processo, não havia nenhuma prova, ao contrário do que se publica na imprensa. A gente vê a notícia, é uma coisa. A gente vê o processo, não tem absolutamente prova nenhuma. Costumo até dizer que ele era bandido de folhetim. O processo em si não provava aquilo que se diz usualmente que ele era (miliciano). Hoje recebi consternado essa informação da morte.
O sr. falou com algum dos familiares de Adriano?
A esposa dele me ligou aos prantos, dizendo que tinha absoluta certeza de que isso tinha sido uma ação orquestrada para matá-lo e não para prendê-lo, tanto é que ele disse a ela que não estava armado. Ela esteve com ele há alguns dias e ele não estava armado. Estava fugindo, mas sem capacidade de resistência. Ela estava aos prantos, completamente desnorteada.
O que levou Adriano a chegar a essa conclusão?
Nas palavras dele, seria uma espécie de "queima de arquivo". Mas não perguntei nem quem teria interesse nisso e nem quais seriam as informações que ele deteria. Não julguei conveniente esticar essa conversa. Mas ele disse claramente que temia pela própria vida, por ter receio de uma "queima de arquivo".
O sr. vai comunicar isso às autoridades?
Tenho um dever moral de comunicar isso aos órgãos de apuração. Me parece absolutamente necessário que se faça uma apuração rigorosíssima para saber se isso foi de fato uma resistência ou um extermínio. Nem a pessoa mais procurada de todo o mundo ou de todo o país pode ser morta de uma forma injustificada, como pelo menos esse dois relatos apontam ou sugerem. Meu dever derradeiro como defensor do Adriano seja pedir apuração rigorosíssima pelos órgãos de direito.
Se Adriano era o que a imprensa dizia, uma máquina de guerra, é muito improvável que ele dando resistência ali não tivesse matado ou ferido algum policial. É preciso uma perícia no local para que se diga se de fato ocorreu dessa forma. O auto de resistência nós conhecemos bem como funciona. Vou fazer contato com as corregedorias do Rio e da Bahia e com o Ministério Público.
O que o sr. acha que a morte dele muda na apuração do assassinato de Marielle?
Ele nunca foi acusado de participar da morte de Marielle. Ele é acusado de chefiar uma organização da qual alguns integrantes teriam sido incumbidos dessa morte. Nunca houve ligação dele com essa morte. Há diálogos que já foram publicados na imprensa no sentido de que ele nem teria conhecimento desse caso.
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